quarta-feira, 31 de julho de 2013

Sua cruz está pesada? Veja isso!


Senhor , está muito pesada, vou cortar um pedaço

Senhor, cortarei mais um pedacinho só…
Eu assim poderei carrega-la melhor…

Senhor, obrigada, ficou mais leve

Ufa, cheguei!


A força irresistível de atração da VERDADE em 6 dias que marcaram o Brasil!


Elton Chitolina

Como reunir 3 milhões de jovens na praia numa manhã de domingo?

Como é que 3 milhões de jovens, vindos de 175 países, se reúnem na praia de Copacabana, entre uma noite de sábado e uma manhã de domingo, com infraestrutura precária, em pleno 2013, apesar de todos os ‘avanços’ damentalidade laica, apesar de todos os escândalos envolvendo a religião em geral e o catolicismo em particular, apesar de toda a informação disponível à distância de um clique para bilhões de pessoas, durante uma crise financeira, econômica, política, cívica e moral de proporções históricas, no Brasil e em todo o planeta, para participar, com um papa argentino de 76 anos de idade, em uma missa católica?

Questões de fé à parte, na medida em que é possível deixar a fé à parte num evento explicitamente religioso, é preciso no mínimo supor que o celebrante principal dessa missa exerça uma  liderança acima da média neste momento crítico da jornada humana, em que todos querem expor e impor opiniões de todos os tipos e com todos os elementos do marketing, mas poucos conseguem articular uma proposta, não digamos capaz de mobilizar, nem sequer de parecer convincente, mas pelo menos de soar interessante.
É evidente que a Igreja católica continua (e continuará) despertando profundas discordâncias, entre boa porcentagem inclusive dos católicos, e, portanto, expondo suas próprias e desconcertantes contradições.
No entanto, por baixo das fraturas, ela mantém, em substância, algo que gritantemente falta em todos os nossos partidos políticos, em todos os nossos supostos líderes laicos e em todas as correntes ideológicas que nos segregam em diversas facções permanentemente em combate: ela tem uma proposta capaz de mobilizar com naturalidade. Justo ela, tão associada ao imobilismo. E capaz de mobilizar o indivíduo, não somente as massas. E capaz de mobilizá-lo a partir dos seus anseios interiores, não das suas circunstâncias exteriores. Para maior perplexidade, a proposta mobilizadora da Igreja católica não é de natureza social nem psicológica: é de natureza espiritual.
Tornando o panorama ainda mais difícil de entender, trata-se de uma proposta cujos efeitos colaterais práticos levantam questões explosivas no cotidiano, todas vinculadas basicamente ao conceito de família: sexo, casamento, divórcio, anticoncepcionais, aborto, eutanásia e especificidade dos gêneros. Por sua vez, o conceito de família proposto pela Igreja católica deriva do seu conceito de vida humana, recebida como dom a ser retribuído e não como direito a ser mantido à própria disposição.
É em torno a estes dois conceitos, família e vida, que se concentra, portanto, praticamente toda a polêmica entre a Igreja católica e a chamada cultura liberal contemporânea.
A postura da Igreja se torna ainda mais “surreal” quando ela associa divórcio, aborto e sexo sem compromisso, por exemplo, com o que ela chama de “cultura do descarte”, que, a seu ver, seria própria da contemporaneidade liberal. São palavras fortes, como as da vovó para os netos mimados, avessos ao comprometimento duradouro e à transcendência de si próprios para além do próprio umbigo.
Interpretando-se a panorâmica a partir da perspectiva destes conceitos-chave de família e vida, não parece provável que a Igreja católica vá deixar de enxergar o aborto como um assassinato, já que, em seu conceito de vida humana, ela considera que a vida começa na fecundação natural do óvulo pelo espermatozoide, gerando um zigoto que já é, geneticamente, uma criatura nova.
Nem parece realista pretender que a Igreja passe a ver o divórcio como uma banalidade da vida, dada a sua concepção de família natural como célula indissolúvel de uma sociedade igualmente natural. Mais que focar em proibir o divórcio, na verdade, a Igreja parece focar em propor um conceito exigente de matrimônio, que envolve um grau de maturidade, consciência e firmeza de decisão quase incompatível com a pressa, a superficialidade e o “vamos ver no que dá”, típico, gostemos ou não de admitir, da nossa “cultura do descarte”.
Doeu e podemos discordar à vontade, mas é inegável que existe uma coerência entre as posições firmes da Igreja, evidentemente nada “modernas”, e o seu conceito fundamental sobre vida e família.
Doeu e talvez devamos pensar com mais imparcialidade a respeito disso tudo, soltando momentaneamente das nossas mãos “liberais” as pedras que gostamos de atirar em quem se atreve a contestar os nossos próprios dogmas de descartabilidade de tudoAté porque a “cultura do descarte”, afinal de contas, não está satisfazendo aqueles nossos tais “anseios interiores”. Reconheçamos.
Basta ver no Facebook os muros de lamentações sobre relacionamentos amorosos vazios, sobre a ânsia permanente para que chegue a sexta-feira, sobre a insatisfação quase patológica com o trabalho e com as amizades rasas, sobre o estresse cada vez mais avassalador, sobre as querelas em famílias desnorteadas, sobre a batalha de acusações entre facções ideológicas opostas. 
Basta ver a falta de propostas coesas. Aliás, quais são as propostas, propriamente ditas, com as quais contamos? Há mesmo alguma que não seja meramente mais um amontoado de objeções passionais contra as tentativas de propostas dos outros, que por sua vez são outros amontoados de palavras de ordem contra alguma terceira coisa a ser destruída? Em Copacabana, um grupo de manifestantes promoveu um espetáculo de pisoteamento de crucifixos e de espatifamento de imagens de Nossa Senhora: era, acaso, alguma proposta? De quê?

As impressionantes tomadas aéreas exibidas ao vivo na manhã deste histórico domingo, mostrando uma Copacabana tomada por 3 milhões de pessoas reunidas para ouvir as propostas de um idoso, batendo todos os recordes de reunião humana num único evento em uma mesma cidade em toda a história do Brasil, parece um indício de resposta para nós, que não entendemos direito o que foi aquilo.