quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Você é portador da juventude de espírito ou é um “velho”, mesmo jovem?


Por Alfonso Aguiló

Certo dia, um garoto viu como um elefante de circo, depois do espetáculo, era amarrado com uma corrente a uma pequena estaca cravada no chão. O garoto espantou-se ao ver que um animal tão grande era incapaz de libertar-se daquela estaca tão pequena. Contemplou a cena por um bom tempo. Surpreendia-o, sobretudo, o fato de o elefante não fazer o menor esforço por soltar-se.

Decidiu perguntar ao tratador por que acontecia isso. Este respondeu: “É muito simples: o elefante está amarrado numa estaca como essa desde pequeno; como naquela época não era capaz de escapar, desistiu de tentá-lo e hoje não sabe que a estaca é muito pouca coisa para ele. Lembra-se apenas de que durante muito tempo não podia fugir”.

Talvez aconteça algo de parecido conosco em algum aspecto da nossa vida. Há barreiras que nos sufocam porque durante muito tempo as fomos considerando insuperáveis e, ainda que hoje tenhamos forças para ultrapassá-las, não o fazemos por continuarmos a vê-las como algo fora das nossas possibilidades.

Temos de cultivar a sadia capacidade de descobrir as nossas falsas convicções, as escravidões que nos acorrentam, as idéias simples que não queremos questionar porque põem em perigo velhas concessões feitas à falta de vontade de lutar. Devemos lançar fora a soberba sutil que envolve a nossa mente e a enreda em tolas reações de inveja, ciúmes ou ressentimentos que nos aprisionam. Ou esforçar-nos mais para sair das teias da murmuração, da ira ou do mau-humor. Ou ainda reconhecer fixações pouco honrosas, como o álcool, o sexo ou o videogame.
Poderíamos encontrar muitos exemplos de pequenas amarras que imobilizam grandes vontades, de homens que não se decidem a livrar-se delas porque desconhecem a magnitude daquilo que os freia e não se dão conta de que essas amarras são ninharias que poderiam cortar perfeitamente.

A amarra mais grave de todas é a ignorância sobre aquilo que nos prende, pois não é possível lutar contra alguma coisa que não percebemos; e se não lutarmos, permaneceremos sempre cativos. Por isso, temos de agradecer aos amigos que nos fazem ver essas amarras, por mais que isso nos doa. Aliás, a dor que sentimos ao ouvir certas coisas é um sintoma claro de que este ou aquele amigo acertou.

Outro grande inimigo é a falta de esperança. Não temos a esperança de podermos superar os obstáculos que nos travam e muitas vezes acontece conosco o que aconteceu com certa águia acorrentada: havia tentado por muito tempo libertar-se da corrente e levantar vôo… e, de fato, conseguiu-o na sua última tentativa, mas cansou-se e resignou-se ao seu confinamento sem notar que já estava livre.

Com demasiada freqüência, esquecemos que as grandes conquistas são quase sempre alcançadas após muitas tentativas fracassadas. Tendemos a acomodar-nos, a conformar-nos com as nossas correntes porque nos custa quebrá-las; e então nos autoconvencemos de que não existem ou de que pouco nos importa que existam.

Há um tipo de esperança – escreveu Josef Pieper – que brota da energia juvenil, mas que se esgota com os anos, com o declinar da vida: as nossas memórias voltam-se para o “já não” em vez de se dirigirem para o “ainda não”. Mas a verdadeira esperança oferece ao homem um “ainda não” que triunfa sobre o declínio das energias naturais. Dá ao homem tanto futuro que o passado passa ser considerado “pouco passado”, por mais rica e longa que tenha sido a vida. A esperança é a força do desejo voltado para um “ainda não” que, quanto mais nos aproximamos dele, mais se distancia.

Por isso, a verdadeira esperança produz uma eterna juventude. Comunica ao homem elasticidade e leveza, uma juventude exigente e flexível ao mesmo tempo, qualidade própria dos corações fortes. Trata-se de uma valentia despreocupada e confiante, que caracteriza e distingue o homem de espírito jovem, fazendo dele um exemplo sumamente atrativo. A esperança confere uma juventude inacessível à velhice e à desilusão. Assim, se todos os dias perdemos um pouco da nossa juventude natural, também todos os dias podemos renovar a nossa juventude de espírito. Em vez de nos esforçarmos por prestar culto à juventude do corpo – que se esvai juntamente com a esperança que pomos nela –, temos de olhar para cumes mais altos, onde seja possível ao homem ancorar a sua esperança e rejuvenescer o seu espírito.