terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Bento XVI apresenta lei de Cristo: o amor Intervenção por ocasião do Ângelus

Queridos irmãos e irmãs:
Na liturgia deste domingo, continua a leitura do "Sermão da Montanha" de Jesus, que abrange os capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de Mateus. Após as bem-aventuranças, que são seu programa, Jesus proclamou a nova Lei, sua Torá, como a chamam nossos irmãos judeus. De fato, o Messias, em sua vinda, traria também a revelação definitiva da Lei, e isto é precisamente o que Jesus diz: "Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir". E, dirigindo-se aos seus discípulos, acrescenta: "Eu vos digo: se vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus" (Mt 5, 17. 20). Mas em que consiste esta "plenitude" da Lei de Cristo e esta justiça "superior" que Ele exige?
Jesus explica isso através de uma série de antíteses entre mandamentos antigos e sua nova maneira de apresentá-los. Cada vez, começa dizendo: "Ouvistes que foi dito aos antigos...", e depois afirma: "Mas eu vos digo...". Por exemplo: "Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar deverá responder no tribunal'. Ora, eu vos digo: todo aquele que tratar seu irmão com raiva deverá responder no tribunal" (Mateus 5, 21-22). E fala dessa forma em seis ocasiões. Esta forma de falar despertou uma forte impressão no meio do povo, que estava com medo, porque "eu vos digo" equivalia a reivindicar para si a mesma autoridade de Deus, fonte da Lei. A novidade de Jesus consiste, essencialmente, no fato de que Ele mesmo "preenche" os mandamentos com o amor de Deus, com a força do Espírito Santo que habita n'Ele. E nós, pela fé em Cristo, podemos nos abrir à ação do Espírito Santo, que nos torna capazes de experimentar o amor divino. Por esta razão, todo preceito se torna verdadeiro como exigência de amor, e todos se reúnem em um mandamento único: ama a Deus com todo o coração e ama o teu próximo como a ti mesmo. "O amor é a plenitude da lei", escreve São Paulo (Rm 13, 10). Diante desta exigência, por exemplo, o triste caso das quatro crianças ciganas que morreram na semana passada nos arredores desta cidade, em sua barraca queimada, exige que nos perguntemos se uma sociedade mais solidária e fraterna, mais coerente no amor, ou seja, mais cristã, não teria podido evitar essa tragédia. E essa pergunta é válida para muitos outros eventos dolorosos, mais ou menos conhecidos, que ocorrem diariamente em nossas cidades e nossos países.
Queridos amigos: talvez não seja coincidência que a primeira grande pregação de Jesus seja chamada de "Sermão da Montanha". Moisés subiu ao Monte Sinai para receber a Lei de Deus e levá-la ao povo escolhido. Jesus é o Filho de Deus que desceu do céu para nos levar ao céu, à altura de Deus, pelo caminho do amor. E mais ainda, Ele próprio é este caminho: tudo o que temos a fazer é segui-lo para viver a vontade de Deus e entrar no seu Reino, na vida eterna. Uma só criatura já alcançou o topo da montanha: a Virgem Maria. Graças à união com Jesus, sua justiça foi perfeita: Por esta razão, nós a invocamos como Speculum iustitiae [Espelho de Justiça, N. da T.]. Confiemo-nos a Ela para que guie os nossos passos na fidelidade à Lei de Cristo.


CIDADE DO VATICANO, domingo, 13 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos as palavras que Bento XVI dirigiu hoje, ao meio-dia, aos peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Praça de São Pedro para a oração do Ângelus.
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[Tradução: Aline Banchieri. ©Libreria Editrice Vaticana]