quarta-feira, 6 de abril de 2011

Processo de beatificação de João Paulo II foi normal (1) Fala o postulador da causa do Papa polonês

ROMA, terça-feira, 5 de abril de 2011 (ZENIT.org) - O processo de canonização de Karol Wojtyla cumpriu todos os requisitos canônicos que são necessários em qualquer processo desse tipo. A única dispensa que houve foi a de não esperar cinco anos para a sua introdução.
O fundamental é que o milagre necessário para a beatificação teve lugar quase que imediatamente, alguns meses após morte do Papa.
Quem explica é Mons. Slawomir Oder, postulador da causa de beatificação de João Paulo II, nesta entrevista a ZENIT, quem descreve o processo como "uma belíssima aventura" pessoal.
A segunda parte será publicada no boletim de amanhã.

ZENIT: De que maneira o senhor, como sacerdote, viveu este processo? Foi uma cruz, uma alegria? O que mudou, o que aconteceu?

Mons. Oder: Na perspectiva da Páscoa, a cruz é sempre o prelúdio da alegria. Em outro lugar não há verdadeira alegria, como é ensinado na transfiguração de Jesus, sem passar pela cruz. A tarefa dada a mim tinha seus aspectos pascais, ainda que somente fosse porque se sobrepôs o trabalho que realizo regularmente como vigário judicial à atividade pastoral que conduzo como reitor da igreja romana. Por isso, muitas coisas se juntaram nestes cinco anos, ocupando o meu dia a dia. Além disso, o próprio processo apresentava alguns elementos que exigiam um grande esforço, um grande envolvimento, inclusive no âmbito emocional. Para isso, não me faltaram momentos de dificuldade.
ZENIT: Todos concordam em que João Paulo II seja um santo e, portanto, o processo de canonização parecia quase um passeio. No entanto, o Papa pediu que se seguisse o processo normal.  Apesar disso, as pessoas estão um pouco confusas, porque também foi dito que há uma via preferencial e os tempos foram rápidos. No caso de João Paulo II, houve um processo normal?
Mons. Oder: Absolutamente, sim. A única exceção que se obteve para esse processo foi dispensa da espera de cinco anos para iniciá-lo. Mas o próprio processo evoluiu, com certeza, seguindo as normas canônicas, com todos os critérios que existiram para outros processos canônicos. Por isso, não houve nenhuma verdadeira dispensa, uma via preferencial, neste sentido. No entanto, o que podemos dizer é que a práxis da Congregação é levar adiante as causas que, para além das virtudes heroicas, já têm o milagre, pois são dois processos diferentes. Normalmente, na Congregação, o processo se desenvolve da seguinte forma: realiza-se a investigação diocesana, tramita-se a documentação para a Congregação para as Causas dos Santos, onde se prepara a ‘positio', para então ser submetida à discussão dos teólogos e cardeais. E a ‘positio' espera, pois é necessário um milagre.
A ‘positio' foi levada adiante e imediatamente submetida à discussão dos teólogos e cardeais porque o milagre que deveria acreditar a causa aconteceu muito rápido, e o processo sobre o milagre foi depositado na Congregação para as Causas dos Santos um dia antes do processo sobre as virtudes; isso, de alguma maneira, facilitou a possibilidade de seguir adiante.
ZENIT: Quanto tempo passou desde a morte de João Paulo II até a apresentação do milagre?
Mons. Oder: O milagre, reconhecido como tal, aconteceu em julho do mesmo ano.
ZENIT: E quanto tempo passou até ser reconhecido?
Mons. Oder: Nós concluímos o processo em 2007, e o do milagre foi apresentado um dia antes do encerramento da investigação diocesana sobre as virtudes. Então, estamos falando de junho de 2007.
ZENIT: Foram apresentados outros milagres?
Mons. Oder: Houve muitas graças e outros supostos milagres. Destes, alguns foram investigados, porque é a prática habitual. Antes de realizar um estudo sobre o milagre, faz-se um estudo preliminar que, de certa forma, garante o próprio processo. Em alguns casos, investigamos e as premissas eram boas. Não se deu continuidade porque estava em andamento o processo sobre o milagre escolhido.
ZENIT: O senhor poderia nos dizer em que países se deram estas graças?
Mons. Oder: Aconteceram na França, Estados Unidos, Alemanha e Itália.

ZENIT: Foi necessária toda a pesquisa médica?

Mons. Oder: É um fato normal que, nos processos sobre os milagres, desenvolva-se uma investigação e que todo o material obtido seja submetido, em seguida, ao estudo de médicos; é óbvio que um médico pode pedir mais esclarecimentos, qualquer documento ou uma análise complementar. É muito normal. Foram realizadas todas as investigações consideradas oportunas pelos médicos envolvidos no processo.
ZENIT: O senhor descobriu coisas que não sabia de João Paulo II? Algum aspecto particular que o tornava diferente de sua imagem pública?
Mons. Oder: Já tive a oportunidade de comentar essas coisas. É claro que o processo foi uma belíssima aventura, porque nunca se conhece uma pessoa plenamente. E, por isso, muitos aspectos têm a ver com os detalhes da sua vida, das atividades e contatos que ele tinha com as pessoas. Mas eu diria que é uma aventura que poderia ocorrer em todas as pessoas, porque cada um é um mundo. No entanto, com relação ao que emergiu no processo de beatificação, não há elementos extraordinários. Wojtyla era, de fato, como nós o conhecemos em público. Por isso, não houve um desdobramento, mas uma perfeita transparência do personagem. Certamente, o processo trouxe à luz muitos aspectos.
ZENIT: Houve algo que lhe chamou a atenção, algo que o senhor não conhecia?
Mons. Oder: O que me impressionou, além de ser o aspecto mais importante, foi descobrir que a fonte, a origem dessa atividade extraordinária, dessa generosidade no agir, da profundidade do seu pensamento, era a relação com Cristo. Aqui se destaca, certamente, um homem místico. Um místico porque era um homem que vivia a presença de Deus, que se deixava guiar pelo Espírito Santo, que estava em constante diálogo com o Senhor, que organizou sua vida em torno da pergunta: "Tu me amas?". Assim, sua vida foi a resposta a esta pergunta essencial do Senhor. Por isso, acho que este aspecto é o maior tesouro do processo.