Lucas apresenta – com o diálogo entre Jesus e três candidatos a discípulos – algumas das condições para percorrer, com Ele, esse caminho que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da salvação.
O primeiro diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais. Para o discípulo, o Reino de Deus tem de ser infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-estar material: “As raposas têm as suas covas, e os pássaros, os seus ninhos. Mas o Filho do Homem não tem onde descansar”.
O segundo diálogo sugere que o discípulo deve desapegar-se desses deveres e obrigações que, apesar da sua relativa importância, impedem uma resposta imediata e radical ao Reino: “Deixe que os mortos sepultem os seus mortos. Mas você vá e anuncie o Reino de Deus”.
O terceiro diálogo sugere que o discípulo deve desapegar-se de tudo para fazer do Reino a sua prioridade fundamental. Nada – nem a própria família – deve adiar e demorar o compromisso com o Reino: “Quem começa a arar a terra e olha para trás não serve para o Reino de Deus”.
Não podemos ver essas exigências como normas. Noutras circunstâncias, Jesus mandou cuidar dos pais (cf. Mt 15,3-9); e os discípulos – nomeadamente Pedro – fizeram-se acompanhar das esposas durante as viagens missionárias (cf. I Cor 9,5). O que esses ensinamentos pretendem dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo no seu testemunho cotidiano do Reino.
Aos discípulos de Jesus é proposto que O sigamos no caminho de Jerusalém, pois é por Ele que chegaremos à salvação, à vida plena. Trata-se de um caminho que implica renúncia a nós mesmos, aos nossos interesses, ao nosso orgulho, e um compromisso com a cruz, com a entrega da vida, com o dom de si, com o amor até às últimas consequências.
Padre Bantu Mendonça