segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Bento XVI: bem-aventuranças, programa de vida Intervenção por ocasião do Ângelus



Queridos irmãos e irmãs:
Neste quarto domingo do Tempo Comum, o Evangelho apresenta o primeiro grande discurso que o Senhor dirige ao povo, sobre as doces colinas ao redor do lago da Galileia. "Vendo as multidões - escreve São Mateus -, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se. E Ele começou a ensinar" (Mt 5, 1-2). Jesus, o novo Moisés, "assume a ‘cátedra da montanha" (Jesus de Nazaré, 2007) e proclama "bem-aventurados" os pobres de espírito, os que choram, os misericordiosos, os que têm fome e sede de justiça, os limpos de coração, os perseguidos (cf.  Mt 5, 3-10). Não se trata de uma nova ideologia, mas de ensinamento que procede do alto e que diz respeito à condição humana, que o Senhor, ao encarnar-se, quis assumir para salvar. Por esta razão, "o Sermão da Montanha é dirigido a todos, no presente e no futuro... e só pode ser compreendido e vivido no seguimento de Jesus, caminhando com Ele" (Jesus de Nazaré). As bem-aventuranças são um novo programa de vida para se livrar dos falsos valores do mundo e abrir-se aos verdadeiros bens presentes e futuros. Quando Deus conforta, sacia a fome de justiça, enxuga as lágrimas dos que choram, isso significa que, além de recompensar cada um de forma sensível, abre o Reino do Céu. "As bem-aventuranças são a transposição da cruz e da ressurreição na existência dos discípulos" (ibid.). Refletem a vida do Filho de Deus, que se deixa perseguir, desprezar até a sentença de morte para dar a salvação aos homens.
Um velho ermitão disse: "As bem-aventuranças são dons de Deus e devemos realmente agradecer por tê-las recebido e pelas recompensas que delas derivam, ou seja, o Reino do Céu na vida futura, o consolo aqui, a plenitude de todo bem e a misericórdia de Deus (...), quando a pessoa se converteu em imagem de Cristo sobre a terra" (Pedro de Damasco, emFilocalia, volumen 3, Turim 1985, p. 79). O Evangelho das bem-aventuranças é comentado na própria história da Igreja, a história da santidade cristã, porque - como escreve São Paulo - "o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte. Deus escolheu o que no mundo não tem nome nem prestígio, aquilo que é nada, para assim mostrar a nulidade dos que são alguma coisa" (1 Coríntios 1, 27-28). Por esta razão, a Igreja não tem medo da pobreza, do desprezo, da perseguição em uma sociedade frequentemente atraída pelo bem-estar material e pelo poder mundano. Santo Agostinho nos lembra que "o que ajuda não é sofrer desses males, mas suportá-los pelo nome de Jesus, não só com espírito sereno, mas inclusive com alegria" (De sermone Domini in monte, I, 5,13: CCL 35, 13).
Queridos irmãos e irmãs: invoquemos a Virgem Maria, a bem-aventurada por excelência, pedindo a força de buscar o Senhor (cf. Sofonias 2, 3) e de segui-lo sempre, com alegria, pelo caminho das bem-aventuranças.


[Tradução: Aline Banchieri.© Libreria Editrice Vaticana]
CIDADE DO VATICANO, domingo, 30 de janeiro de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos as palavras que Bento XVI dirigiu hoje, ao rezar a oração mariana do Ângelus junto a milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
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