quarta-feira, 11 de abril de 2012

Aids e promiscuidade sexual tem relação comprovada.


LUCAS MENDES BBc Brasil
Aids deprime e desamina a conversa, mas o jornalista Craig Timberg e o cientista Daniel Helperin acabam de publicar um livro com histórias fascinantes sobre fracassos e sucessos no combate a AIDS em vários países, com ênfase nos países africanos. O livro é Tinderbox: How the West Sparkled the AIDS Epidemic and How the World Can Finally Overcome It.
Não vamos falar em números e percentagens mas vale a pena lembrar a origem da história. Aids existia em macacos, há milhares de anos na África, e se chamava SIV. No século 19, colonizadores alemães e belgas chegaram a Camarões e à região que seria chamada Congo Belga. Nestas expedições, de comércio levavam carregadores africanos para pegar no pesado e era comum matar macacos para comer.
No sangrento processo de destrinchar um animal, algum empregado, com um corte na mão, pegou o vírus do SIM.
Biólogos, geneticistas e epidemiologistas hoje são e capazes de identificar um vírus, seus descendentes e mutantes durantes séculos.
Naquelas aldeias pequenas e distantes da África, as doenças começavam e matavam com os mesmos sintomas de tantas outras doenças: diarreia, febre e enfraquecimento. Foi entre 1884 e 1924, provavelmente em 1908 que o primeiro vírus saiu da população dos chinpanzés para os humanos.
Craig Timberg conta que o ano-chave na nossa geração é 1960, quando o belgas saem do Congo que fica independente. Os geneticistas calculam que de mil a duas mil pessoas naquele ano tinham Aids no Congo, mas a doença ainda não tinha nome.
Com a saída dos belgas, a economia e a administração do Congo colapsaram e as Nações Unidas mandaram milhares de médicos, enfermeiras, técnicos que falavam francês, centenas deles haitianos.
Na revolução sexual dos 60 e 70, o Haiti era um dos destinos favoritos dos americanos. Foram eles, ou através deles, que a Aids chegou aos Estados Unidos.
Eu morava na rua 9, no Village, e a continuação era a rua Chistopher, que tinha a maior concentração de gays em Nova York. Um dia, minha mulher Rose, que produzia matérias para a Bandeirantes me disse que trabalhava numa matéira sobre gays que que morriam de uma doença misteriosa.
Em 1981 a palavra Aids apareceu pela primeira vez na imprensa, na revista Newsweek. Craig Timberg estava na escola e se lembra do pavor da geração dele, na faixa dos 16, 17 anos, que tinha suas primeiras experiências sexuais.
Na década de 90, a doença começou a ser contida nos Estados Unidos mas galopava na África onde a homossexualidade era um tabu. Aids, na África, foi diagnosticada como promiscuidade de brancos e ignorada em vários países, entre eles a África do Sul, um dos mais sofisticados do continente.
No Congo Belga, um país atrasado, que tinha virado Zaire, os doentes eram chamados de “londrinos”, coisa de expatriados ingleses. O ditador Mobutu dizia que a doença chegou na Africa quando milhares de fãs foram assistir à luta de George Foreman e Muhammad Ali e não fez nada para conter a epidemia. O filho dele morreu de Aids.
Uganda, onde Aids se chama Slim, deu a volta por cima. A doença corria solta quando Museveni chegou ao poder em 1986 depois de uma guerra civil.
Intelectual de esquerda, Museveni ouviu os médicos e mandou um grupo de funcionários para ser treinado em Cuba. Dezoito deles tinham Aids. Fidel disse a Museveni: “Irmão, você tem um problema grave”.
O africano acreditou, entendeu que a doença se espalhava pela promiscuidade sexual e criou um programa chamado “Zero Grazing” ou “Pastagem Zero”. A metáfora vem do bode que fica amarrado num toco e só se alimenta  do capim em volta até formar um zero. Num país onde a poligamia era legal e comum a campanha do Museveni enfatizava a monogamia.
Em resumo, Timberg e Helperin demonstram que algumas das campanhas mais simples, como as de Uganda e Zimbábue, que enfatizavam a redução no número de parceiros sexuais, foram mais eficientes no combate a Aids do que os modelos criados pela ONU, Estados Unidos e Europa.