quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O que dizem os ateus... Parte V

5. O Antigo Testamento

Michel Onfray zombeteia acerca da história do Antigo Testamento como nenhum cientista faria. Revela não ter estudado o assunto, de modo que fala levianamente, em contraste com sua veia filosófica.

Fazendo contraparte a todo o ceticismo ateu, que extingue o senso místico de todo ser humano, publicamos, a seguir, bela página de Santo Agostinho, que escreve em nome do que há de mais íntimo dentro de cada um de nós.

6. Em contraste: Santo Agostinho

“Ninguém vem a Mim, senão aquele que é atraído por meu Pai. Não julgues que és atraído contra a tua vontade: a alma também é atraída pelo amor. Não devemos temer a censura que, por causa destas palavras evan gélicas da Sagrada Escritura, poderiam dirigir-nos alguns homens, que pesam materialmente as palavras, mas estão muito longe de compreender o verdadeiro sentido das coisas divinas. Poderiam dizer-nos “Como posso acreditar livremente, se sou atraído?”. E eu respondo: “Parece-me pouco dizer que somos atraídos livremente: é com prazer que sentimos a força dessa atração”.

Que significa ser atraído com prazer Põe as tuas delícias no Se nhor e Ele satisfará os anseias do teu coração. Trata-se de um certo ape tite da alma que nos torna saboroso pão do céu. Se o poeta pôde dizer:

“Cada um é atraído pelo próprio apetite”, não pela necessidade, mas pelo prazer, não pela obrigação, mas pelo gosto, não poderíamos dizer nós com maior razão, que o homem é atraído para Cristo, porque põe as suas delicias na verdade, na bem-aventurança, na justiça, na vida eterna, e sabe que Cristo é tudo isto?

Acaso terão os sentidos corporais os seus prazeres, sem que o es pírito tenha também os seus? Se o espírito não pode experimentar as suas delícias, por que se diz no salmo: À sombra das vossas asas se refugiam os homens? Podem saciar-se da abundância da vossa casa e vós os inebriais com a torrente das vossas delícias. Em Vós está a fonte da vida e é na vossa luz que veremos a luz.

Apresenta-me alguém que ame e compreenderá o que afirmo. Apre senta-me alguém que deseje, que tenha fome, que se sinta peregrino e exilado neste deserto, que tenha sede e suspire pela fonte da pátria eterna; apresenta-me um destes homens e compreenderá o que digo. Mas se falo a um coração frio, esse não pode compreender nada do que estou a dizer.

Se as delícias e os gostos terrenos, quando se oferecem a quem os ama, exercem tão forte atração, porque “cada um é atraído pelo próprio apetite”, como não há de atrair-nos o amor de Cristo, que é a revelação do Pai? Que pode a alma desejar mais ardentemente que a verdade? De que outra coisa pode sentir-se o homem mais faminto? Para que deseja ele ter são o paladar interior senão para discernir a verdade, para comer e beber a sabedoria, a justiça, a verdade, a eternidade?

Diz o Senhor: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, cá na terra, porque serão saciados, lá no céu”. Dou-Ihes o que amam; dou-Ihes o que esperam; verão aquilo em que acreditaram sem ver; comerão e serão saciados com aqueles bens de que tiveram fome e sede. Onde? Na ressurreição dos mortos, porque Eu os ressuscitarei no último dia”.

Sem dúvida, a volúpia de que fala S. Agostinho é mais valiosa do que o vazio apregoado pelo ateísmo.

“Todo homem tem dentro de si um vazio do tamanho de Deus”. (Dostoievski)