Aqui no número 2 do documento Lumen Fidei,
surge a inquietante pergunta: Afinal, como podemos entender a fé? Ela nos lança
no mundo da Verdade, para além das aparências sensoriais, ou pelo contrario,
subtrai de quem a cultiva a busca da racionalidade existencial própria e
característica do homem? Haveria espaço dentro de um ser, para a coexistência
pacífica entre a fé e a “verdade”, como prenunciada por Nietzsche? Ou tal
situação seria impraticável, pois uma anularia a outra? Para nós, dentro de
nossa existencialidade, tendo por parâmetro a vida prática, qual tem sido a
nossa busca: pela alma e felicidade ou pela “verdade” posta pelo mundo, do
sensorial, concreto e palpável?
Um
abraço.
Christian Moreira
Membro da Comunidade
Canção Nova
2. E contudo podemos ouvir a objecção que se levanta
de muitos dos nossos contemporâneos, quando se lhes fala desta luz da fé. Nos
tempos modernos, pensou-se que tal luz poderia ter sido suficiente para as
sociedades antigas, mas não servia para os novos tempos, para o homem tornado
adulto, orgulhoso da sua razão, desejoso de explorar de forma nova o futuro.
Nesta perspectiva, a fé aparecia como uma luz ilusória, que impedia o homem de
cultivar a ousadia do saber. O jovem Nietzsche convidava a irmã Elisabeth a
arriscar, percorrendo vias novas (…), na incerteza de proceder de forma
autónoma ». E acrescentava: « Neste ponto, separam-se os caminhos da
humanidade: se queres alcançar a paz da alma e a felicidade, contenta-te com a
fé; mas, se queres ser uma discípula da verdade, então investiga ».[3] O
crer opor-se-ia ao indagar. Partindo daqui, Nietzsche desenvolverá a sua
crítica ao cristianismo por ter diminuído o alcance da existência humana,
espoliando a vida de novidade e aventura. Neste caso, a fé seria uma espécie de
ilusão de luz, que impede o nosso caminho de homens livres rumo ao amanhã.