terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Lumen Fidei.2 - Uma luz ilusória?

Aqui no número 2 do documento Lumen Fidei, surge a inquietante pergunta: Afinal, como podemos entender a fé? Ela nos lança no mundo da Verdade, para além das aparências sensoriais, ou pelo contrario, subtrai de quem a cultiva a busca da racionalidade existencial própria e característica do homem? Haveria espaço dentro de um ser, para a coexistência pacífica entre a fé e a “verdade”, como prenunciada por Nietzsche? Ou tal situação seria impraticável, pois uma anularia a outra? Para nós, dentro de nossa existencialidade, tendo por parâmetro a vida prática, qual tem sido a nossa busca: pela alma e felicidade ou pela “verdade” posta pelo mundo, do sensorial, concreto e palpável?

Um abraço.
Christian Moreira

Membro da Comunidade Canção Nova 


2. E contudo podemos ouvir a objecção que se levanta de muitos dos nossos contemporâneos, quando se lhes fala desta luz da fé. Nos tempos modernos, pensou-se que tal luz poderia ter sido suficiente para as sociedades antigas, mas não servia para os novos tempos, para o homem tornado adulto, orgulhoso da sua razão, desejoso de explorar de forma nova o futuro. Nesta perspectiva, a fé aparecia como uma luz ilusória, que impedia o homem de cultivar a ousadia do saber. O jovem Nietzsche convidava a irmã Elisabeth a arriscar, percorrendo vias novas (…), na incerteza de proceder de forma autónoma ». E acrescentava: « Neste ponto, separam-se os caminhos da humanidade: se queres alcançar a paz da alma e a felicidade, contenta-te com a fé; mas, se queres ser uma discípula da verdade, então investiga ».[3] O crer opor-se-ia ao indagar. Partindo daqui, Nietzsche desenvolverá a sua crítica ao cristianismo por ter diminuído o alcance da existência humana, espoliando a vida de novidade e aventura. Neste caso, a fé seria uma espécie de ilusão de luz, que impede o nosso caminho de homens livres rumo ao amanhã.