quarta-feira, 6 de abril de 2011

Como chegar a ser exorcista hoje? Encontro com o autor de “O Rito” no Ateneu Pontifício ‘Regina Apostolorum’

ROMA, segunda-feira, 4 de abril de 2011 (ZENIT.org) - O diabo existe? Para o Pe. Gary, sacerdote californiano, a existência do diabo havia sido sempre uma questão puramente teórica, ligada a uma forma arcaica e supersticiosa de viver a fé.
Por isso, quando seu bispo pede que ele vá até o Ateneu Pontifício ‘Regina Apostolorum' de Roma para acompanhar um curso sobre exorcismo, a primeira reação foi de surpresa e de ceticismo.
As aulas, sob a guia de grandes exorcistas, como Gabriele Amorth e Francesco Bamonte, e sobretudo a aprendizagem junto ao Pe. Carmine, exorcista veterano, revolucionando suas ideias confusas e céticas sobre o tema, levam o Pe. Gary a perceber que a presença do Maligno é concreta e muito mais difundida do que se imagina.
Esta é a história contada por Matt Baglio en seu livro semibiográfico: ‘Il rito. Storia vera di un esorcista di oggi' (Editore Sperling & Kupfer Collana). A novela se tornou popular graças também à sua adaptação cinematográfica, no filme "O Rito", dirigido por Mikael Håfstrom.
Dentro de poucos dias, Matt Baglio apresentará sua novela na universidade onde começou a história do livro: o Ateneu Pontifício ‘Regina Apostolorum', em Roma.
"A ideia do livro surgiu quando eu soube dos cursos oferecidos pelo ‘Regina Apostolorum', afirmou Baglio. Como jornalista ‘freelancer', achei que seria uma boa notícia. A única coisa que eu sabia sobre o exorcismo era o que havia visto nos filmes de Hollywood, como ‘O exorcista', e me perguntava como a Igreja ainda podia acreditar nisso."
Portanto, Matt fez a experiência que depois faria seu personagem, o Pe. Gary, também ele californiano. "Acompanhando o curso, percebi que a realidade do exorcismo é muito diferente de tudo o que eu já havia imaginado."
Matt Baglio - e nós com ele - segue, passo a passo, a aprendizagem do Pe. Gary e, com o olhar lúcido do jornalista de investigação, oferece-nos uma reportagem única sobre uma realidade totalmente desconhecida, frequentemente deformada por filmes e novelas, quase sempre inexplicável.
"O Rito" obriga tanto o crente como o cético a considerar de modo totalmente novo a inusitada presença do diabo e, neste sentido, pertence a esse raro e precioso gênero de livros capaz de transformar quem se aproxima dele.
Quando se admite a possibilidade de uma existência superior que tende ao bem, não é difícil acreditar que a personificação do mal possa, em determinadas circunstâncias, manifestar-se.
"A escolha de não acreditar no diabo não o protegerá dele", diz o protagonista, com uma das frases mais marcantes do filme.
Na verdade, a pergunta última que a leitura do livro provoca é a formulada pelo nome do site do filme: "What do you believe?" (Em que você acredita?).
Mais informações: www.upra.org; www.unier.it; telefone: (0039) 06.66.54.31

Mensagem do Dia

"Apliquem-se a amar e sofrer amando. Quando adquirimos a perfeita sabedoria, então faremos tudo o que Deus deseja de nós."
Santa Margarita Maria

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Mensagem do Dia

"O tempo gasto para a glória de Deus e para a saúde da alma nunca é desperdiçado." (Padre Pio de Pietrelcina)

A ética abortista Os argumentos pela vida não são apenas religiosos Por padre John Flynn, L.C.

ROMA, domingo, 3 de abril de 2010 (ZENIT.org) - Os defensores do direito ao aborto costumam criticar os que apoiam a vida por supostamente tentar impor suas crenças religiosas aos demais. Ainda que a religião proporcione ao debates sólidos argumentos, estes não são apenas religiosos, como destaca um livro de recente publicação.
Christopher Kaczor, em ‘The Ethics of Abortion: Women's Rights, Human Life and the Question of Justice’ (A Ética do Aborto: Direitos das Mulheres, Vida Humana e a Questão da Justiça) (Editora Routledge), toma uma postura filosófica perante o aborto e explica por que não é justificável.

Um dos pontos chave que Kaczor enfrenta é: quando se começa a ser pessoa. Alguns defensores do aborto sustentam que se pode distinguir os humanos das pessoas. Um exemplo dado é o de Mary Anne Warren, que oferece critérios para se levar em conta antes de dizer de alguém que ele é uma pessoa.

Ela propõe que as pessoas têm consciência dos objetos e dos acontecimentos e a capacidade de sentir dor. Têm também a força da razão e a capacidade para atividade auto-motivada, junto à capacidade de comunicação.

Como resposta a tais argumentos, Kaczor assinala que, usando tais critérios, seria difícil sustentar razões contra o infaticídio, posto que um bebê recém-nascido não cumpre tais critérios.

Por outro lado, não deixamos de ser pessoas quando estamos dormindo ou sedados em uma operação cirúrgica, ainda que nesses momentos não sejamos conscientes nem estejamos em movimento. De igual forma, quem sofre de demência ou os deficientes não satisfazem os critérios de Warren para ser pessoas.

Uma questão de lugar
Outro posicionamento para justificar o aborto é o que se baseia na localização, quer dizer, se se está fora ou dentro do útero. Kaczor afirma que a pessoa vai muito além da simples localização. Se admitimos este argumento, segue-se que, quando há uma fecundação artificial fora do útero, o novo ser teria o status de pessoa, mas logo o perderia quando fosse implantado, voltando a ganhá-lo quando saísse do útero.

Há também casos de cirurgia fetal aberta, procedimento em que o feto humano é extraído do útero. Se determinarmos o ser pessoa por uma existência fora do útero, nos veríamos na inverossímil situação de que em tais casos o feto é uma ‘não-pessoa’, que depois passa a ser ‘pessoa’, para depois voltar a ser ‘não pessoa’, já que retorna ao útero, para depois tornar-se ‘pessoa’, quando nascer.

Excluindo portanto a localização como critério para ser considerado pessoa, Kaczor discute a questão de se a condição de pessoa se estabelece em algum ponto entre a concepção e o nascimento. Ele observa que a viabilidade, quer dizer, se o feto no útero é potencialmente capaz de viver fora do ventre materno, era citada pelo Supremo Tribunal dos EUA no processo ‘Roe v. Wade’ como um modo de determinar se os fetos humanos merecem alguma proteção legal.

Contudo, segundo Kaczor, esta postura tem seus problemas. Por exemplo, os gêmeos unidos dependem em ocasiões um do outro para viver e, ainda assim, ambos são considerados pessoas.

A viabilidade também estabelece um problema, porque nos países ricos, com avançados cuidados médicos, os fetos se tornam viáveis antes que nos países pobres. E os fetos femininos são viáveis antes que os masculinos. As diferenças de sexo e de riqueza deveriam influir em quem é pessoa ou não?

Outra ideia é considerar que a capacidade de sofrer dor ou desfrutar do prazer é o que poderia marcar o começo do direito à vida, continua Kaczor. Isso tampouco é suficiente, pois exclui os que estão sob anestesia ou em coma. Ademais, alguns animais têm esta capacidade.

Ética ‘gradual’
A resposta pró-abortista às críticas anteriores adota a forma do ponto de vista ‘gradual’. Kaczor explica que isso consiste em sustentar que o direito à vida aumenta em força de modo gradual conforme se desenvolve a gravidez, e quanto mais similar um feto é de uma pessoa como nós, maior proteção deveria ter.

No entanto, Kaczor observa que há uma diferença entre o direito à vida e o restante dos direitos. Há restrições de idade para votar, dirigir ou ser eleito para um cargo público. Isso acontece porque o direito em questão exige uma capacidade para assumir as responsabilidades implicadas.

Pelo contrário, o direito à vida não contém implicitamente nenhuma responsabilidade e, por isso mesmo, pode ser desfrutado sem ter em conta a idade ou as capacidades mentais.

Outro problema da postura ‘gradual’ é que o desenvolvimento humano não termina com o nascimento. Se o status moral se vincula ao desenvolvimento psicológico, matar alguém de 14 anos iria requerer uma justificativa maior que matar um de 6.

Kaczor afirma que o erro desses argumentos nos leva à conclusão de que, se não há diferenças eticamente relevantes entre os seres humanos em suas diversas etapas de desenvolvimento que faça com que alguém não seja uma ‘pessoa’, a dignidade e o valor de uma pessoa não começa depois de seu nascimento, nem em momento algum de sua gestação. Todo ser humano é também uma pessoa humana.

A história nos apresenta muitos exemplos da necessidade de respeitar todo ser humano como pessoa portadora de dignidade. Kaczor argumenta que em teria ninguém atualmente, ao menos no Ocidente, defenderia a escravidão, a misoginia ou o antissemitismo.

A pessoa começa com a concepção?
Segundo Kaczor, essa questão não é a princípio moral, mas científica. Ele cita textos científicos e médicos que afirmam que com a concepção há o início de nova vida humana e uma mudança fundamental com a criação de um ser com 46 cromossomos.

Após a fecundação não há presença de nenhum agente exterior que mude o organismo recém-concebido em algo que seja diferente. Pelo contrário, o embrião humano se auto-desenvolve para futuras etapas.

“Fazendo uma analogia, o embrião humano não é um mero modelo detalhado da casa que se construirá, mas uma casa minúscula que se faz cada vez maior e mais complexa, através de seu auto-desenvolvimento ativo para a maturidade”, esclarece o autor.

Após isso, os últimos capítulos do livro analisam alguns argumentos utilizados pelos defensores do aborto. Examina-os um por um, mostrando suas debilidades.

Por exemplo, tem-se sustentado que, posto que nas primeiras etapas há a possibilidade de que haja uma divisão em dois irmãos, o embrião não é um ser humano individual. Kaczor rebate isso dizendo que, ainda que se possa dividir em dois seres, isso não significa que não seja um ser individual.

Ele comenta que a maioria das plantas pode dar lugar a mais plantas individuais, mas isso não significa que uma planta não possa ser uma planta individual e diferente.

O autor analisa também alguns casos difíceis como as gravidezes resultado de violação ou incesto. A personalidade do feto, insiste Kaczor, não depende da forma como foi concebido. “És o que és, sem importar as circunstâncias de tua concepção e nascimento”, afirma.

O livro de Kaczor, como uma argumentação sólida, contém muitos raciocínios cuidadosamente elaborados, o que o torna uma valiosa fonte de inspiração para os que lutam por defender a vida humana.

Papa: que atitude assumimos frente a Jesus? Intervenção no Angelus dominical

CIDADE DO VATICANO, domingo 3 de abril de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos a seguir a intervenção do Papa neste domingo, ao introduzir a oração do Angelus com os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

* * *Queridos irmãos e irmãs!

O itinerário quaresmal que estamos vivendo é um tempo de graça particular, durante o qual podemos experimentar o dom da benevolência do Senhor para conosco. A liturgia deste domingo, chamado ‘Laetare’, convida-nos à alegria, à plenitude, tal e como proclama a antífona da entrada da celebração eucarística: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações!” (cf. Is 66, 10-11).

Qual é a razão profunda desta alegria? Diz-nos o Evangelho de hoje, em que Jesus cura um homem cego de nascimento. A pergunta que o Senhor Jesus dirige àquele que havia sido cego constitui o cume do relato: “Tu crês no Filho do Homem?” (Jo 9, 35). Aquele homem reconhece o sinal realizado por Jesus, e passa da luz dos olhos à luz da fé: “Eu creio, Senhor!” (Jo 9, 38). Há que ressaltar como uma pessoa simples e sincera, de forma gradual, realiza um caminho de fé: em um primeiro momento, encontra-se com Jesus como um “homem” entre os demais, depois o considera um “profeta”, finalmente, seus olhos se abrem e o proclama “Senhor”. Em oposição à fé do cego curado está o endurecimento do coração dos fariseus, que não querem aceitar o milagre, porque rejeitam acolher Jesus como o Messias. A multidão, em contrapartida, detém-se a discutir sobre o fato e permanece distante e indiferente. Os próprios pais do cego são vencidos pelo medo do julgamento dos demais.

E nós, que atitude assumimos frente a Jesus? Também nós, por causa do pecado de Adão, nascemos “cegos”, mas frente à fonte batismal fomos iluminados pela graça de Cristo. O pecado tinha ferido a humanidade, destinando-a à escuridão da morte, mas em Cristo resplandece a novidade da vida e a meta à qual fomos chamados. N’Ele, revigorados pelo Espírito Santo, recebemos a força para vencer o mal e realizar o bem. De fato, a vida cristã é uma configuração contínua a Cristo, imagem do homem novo, para chegar à plena comunhão com Deus. O Senhor Jesus é “a luz do mundo” (Jo 8, 12), porque n’Ele “resplandece o conhecimento da glória de Deus” (2 Cor 4, 6), que continua revelando na complexa trama da história qual é o sentido da existência humana. No rito do Batismo, a entrega da vela, acesa no grande círio pascal símbolo de Cristo Ressuscitado, é um sinal que ajuda a captar o que acontece no Sacramento. Quando nossa vida se deixa iluminar pelo mistério de Cristo, experimenta a alegria de ser libertada de tudo que ameaça sua realização plena. Nestes dias que nos preparam para a Páscoa, reavivemos em nós o dom recebido no Batismo, essa chama que às vezes corre o risco de ser sufocada. Que nós a alimentemos com a oração e a caridade com o próximo.

À Virgem Maria, Mãe da Igreja, confiamos o caminho quaresmal, para que todos possam encontrar Cristo, Salvador do mundo.

[Traduzido por ZENIT ©Libreria Editrice Vaticana]

domingo, 3 de abril de 2011

Enquanto isso, no Brasil.... surpresa nos ovos de chocolate.

Mensagem do Dia

"Antes da Comunhão... suplica a esta bondosa Mãe que te empreste seu coração para receber nele a seu Filho com suas próprias disposições."
São Luis Maria Griñón de Monfort

Recebi a força do Espírito Santo - Padre Rufus


Quando nós lemos os quatro Evangelhos existem três coisas que descrevem a vida de Jesus. A primeira coisa que é dita é que depois da ressurreição Jesus apareceu aos seus apóstolos para dize-los e demonstrar que apesar de Ele ter morrido estava agora ressurrecto dos mortos. Esta é a base da nossa fé em Jesus Cristo.
O segundo ponto é que Jesus não só ressuscitou, mas está vivo. Em terceiro lugar, Ele está conosco, no meio de nós. Vocês sabem de algum outro líder religioso que morreu e ressuscitou, que morreu há milhares de anos, mas continua vivo que permanece conosco?
Eu tenho visto e ouvido tantas experiências ao longo desse tempo de que Jesus ressuscitou e continua no meio de nós. Às vezes, tenho até dificuldade em escolher qual história devo contar. Não há ninguém como Jesus. Ninguém fez toda a obra que Ele fez.
Mas isso não é tudo. A segunda razão pela qual Ele apareceu após a ressurreição era para dizer aos apóstolos que eles deveriam continuar a obra. Jesus também disse: “Curem os doentes”.
Disse também Jesus: “Ensinai a todas as nações”. Algum outro líder disse isso?
Então quem é como Jesus?
Jesus disse aos apóstolos: “O meu trabalho terminou. Agora, o trabalho de vocês começa”. O mesmo Ele está dizendo para mim e para você hoje, que temos que proclamar a Boa Nova a todas as criaturas.
E a terceira razão é que Ele apareceu  para dizer: “Não tenhais medo!... Eu vou enviar a vocês alguém como Eu, um outro Paráclito que estará com vocês”. E quem Jesus nos envia se chama Espírito Santo.
Quando os apóstolos viram que Jesus subiu ao céu e os tinha deixado, eles se entristeceram, mas Jesus disse: “Não tenhais medo! Esperem porque eu vou enviar a vocês um poder que vem do alto”.
E esta é uma das palavras mais incríveis de toda a Sagrada Palavra. “Eu estou deixando vocês, mas estarei sempre convosco. Mas não desta forma, de uma única forma. Eu estou partindo, mas não vou deixar vocês órfãos, sozinhos”. E Jesus disse: “Quando o Espírito habitar em vocês, o Pai também virá e eu também. E nós três faremos morada em você”.
Vamos aplaudir o Senhor por esta magnífica obra. Algum outro líder religioso disse: “Eu virei e farei minha morada dentro de você”?
Se vocês querem saber o que o Espírito Santo pode fazer por vocês observem o que acontece na vida de Jesus. Quem Ele era antes do batismo no Rio Jordão? Aos olhos dos outros era alguém “normal”. Quando João orou por Ele, o céu se abriu e o Pai deu a Ele a coragem que Ele necessitava para pregar a Palavra. E o Espírito Santo deu a força para Ele expulsar o inimigo. E todos aqueles que são cheios do Espírito, assim como Jesus, podem realizar a sua obra.
Quando Jesus começou a pregar, as pessoas começaram a  dizer: “Ninguém fala dessa maneira”. Sempre depois que Ele pregava, curava a todos e libertava com  apenas uma palavra.
Em outras palavras, a vida de Jesus foi completamente transformada e Ele começou a viver como Messias. Alguns teólogos dizem que tudo isso pode ser explicado de uma forma natural, mas eu acredito que aqueles milagres realmente aconteceram, porque eu os vejo acontecendo no meu ministério.
Em segundo lugar, vamos olhar para os apóstolos. O que eles eram antes do domingo de Pentecostes? Os evangelhos descrevem que eles eram uma decepção para Jesus. Não acreditavam verdadeiramente que o que Jesus dizia era verdade. Quando Jesus foi preso todos O abandonaram.

O padre Jonas escolheria 12 pessoas como os apóstolos para trabalharem com ele aqui na Canção Nova? Jesus escolheu as piores pessoas, mas Ele sabia que iria mudá-las.

"O Espírito Santo veio sobre eles, e eles ficaram cheios do Espírito Santo"(Atos 2,4).

Os apóstolos ficaram cheios do Espírito Santo, e cheio é cheio, sem espaço para mais nada.
Vamos ver o que aconteceu. Eles perderam o medo que os prendiam, e eles saíram pelas ruas de Jerusalém. Como foi isso? Eles saíram cantando e louvando a Deus, eles estavam tão cheios do Espírito Santo que perderam todo o medo que os prendia.
O primeiro dom é o dom da oração. Este dom foi dado a Renovação Carismática, é dom para a Igreja. Então Pedro começou a falar sobre Jesus, o mesmo Pedro que havia traído Jesus estava lá sem medo anunciando o nome de Jesus. E Pedro sem nenhuma preparação, mas tão cheio do Espírito Santo,  que as suas palavras tocaram três mil pessoas.
O segundo fruto é o dom do Espírito Santo de pregar a palavra de Deus.
E Pedro dizia: ‘vocês não podem calar a minha boca, porque  terão que calar o Espírito Santo’.
O terceiro sinal é que eles tinham recebido o dom de cura.
Quarto é a comunidade que se une, com uma única mente e um só coração. O Espírito Santo não se divide, Ele une e nos faz ter o mesmo sentimento como um único corpo e com uma única maneira de pensar.
E o quinto dom foi a alegria de sofrer por Jesus.
E tudo o que aconteceu com Jesus há dois mil anos continua acontecendo na nossa Igreja hoje.
A minha tese foi baseada no Evangelho de João: Deus é amor. E eu li várias  e várias vezes, e me deparei com a última pregação de Jesus que diz: ‘Se vocês  crêem em mim vocês farão as mesmas coisas que eu faço’.
Eu já tinha lido tantas vezes, mas naquela hora eu parei, será que estou realmente entendendo? Nós faremos as mesmas coisas que Jesus!
Então Jesus me disse: ‘Leia outra vez’. E eu li, se creio eu farei também as coisas que Jesus tem feito.
Não é incrível? Algum outro líder disse aos seus que eles fariam o que ele fazia?
Mas eu não parei. Jesus disse ‘vocês farão as coisas que eu fiz, mas ainda maiores do que as que eu fiz’. Ninguém a não ser Jesus diz: ‘Faça coisas muito maiores que Eu’.


Vou contar uma história, não para provar que eu fiz coisas maiores como Jesus, mas que eu fiz coisas parecidas com as que Jesus fez.


Estive numa cidade para pregar  num retiro, estávamos numa Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, era a primeira Igreja daquela cidade que tinha a Renovação Carismática, e eram padres Salesianos. Isto aconteceu exatamente trinta anos atrás em fevereiro 1977.
Foi uma missão de uma semana. A noite tinham as pregações e de manhã tinham as confissões e orações. E na segunda manhã daquele encontro, um senhor veio falar comigo.

Qual era o problema daquele homem? A esposa o tinha deixado e levado os dois filhos dele, mas ele não mencionou nenhuma vez que queria que sua esposa voltasse. Pensei que ele fosse contar a raiva que ele tinha da esposa, mas também não foi isso o que ele disse. Mas ele olhou pra mim e disse: ‘ padre isso aconteceu por minha causa, eu era um alcoólatra, batia na minha esposa e a maltratava’. E ali as lágrimas começaram a cair, então percebi que ele estava experimentando o amor de Deus, porque eu via no olhar dele arrependimento e alegria por estar experimentando o amor de Deus.
Então ele saiu da minha sala, mas quando ele estava saindo me lembrei que ele entrou na minha sala com uma bengala, mas quando ele sentou estava com a sua perna esticada. Então o chamei e perguntei: Você pediu a Jesus que curasse a sua perna? E ele me disse: Padre se o Senhor quiser rezar pela minha perna pode rezar, mas ele não estava lá  por causa da cura da perna. Ele não tinha vindo por causa da cura física, mas algo muito maior. Então veio a minha mente o livro de São Mateus 6,33: ‘Buscai primeiro o reino de Deus e tudo mais lhe será acrescentado’. Coloque Deus em primeiro lugar.

Comecei a rezar. ‘Senhor, o Fred veio como o filho pródigo que voltou com o coração arrependido...’ 
Eu disse: Fred me conte o que aconteceu com a sua perna. Ele trabalhava numa fábrica de pneus, e uma parte da máquina caiu na  perna dele, que se dividiu em duas. Ele ficou seis meses internado no hospital mais famoso da Índia. E o médico disse que ele ficaria inválido e nenhuma fisioterapia resolveria o problema. Então ele perdeu o trabalho, e a empresa ofereceu um trabalho mais inferior.


Eu orei por ele, coloquei minha mão na perna dele. A princípio ele dizia para eu não tocar a perna dele porque qualquer toque causava  muitas dores, mas quando eu coloquei a mão ele não sentiu dor e rezamos juntos, e o joelho dele começou a mexer pela primeira vez em seis anos estava movimentando. Ele começou a gritar: ‘Milagre!’. Então eu disse a ele: Levante, ande. Ele começou a gritar novamente: ‘Milagre!
Então pedi que ele descesse as escadas, depois que subisse, e ele foi andando até a casa paroquial e depois foi para a casa.

Porque eu estou contando isso a vocês? Para que vocês acreditem que com o Espírito Santo tudo e possível.
Quando o médico diz: ‘eu não posso fazer nada mais para você’, então aí que Jesus entra.
Então naquela mesma noite o vi entrar, e ele deixou a bengala no altar, deixou seu testemunho e voltou para casa. Mas este não é ainda o final. Na manhã seguinte, ele voltou na fábrica com a bicicleta que ele não usava há seis anos, e quando ele falou ao chefe o que Jesus fez a ele,  o chefe lhe deu o seu trabalho de volta e com o salário muito maior, e colocaram na revista da fábrica o milagre, e naquela noite a esposa ouviu o que tinha acontecido com ele e voltou pra casa com os dois filhos.
É isto que Jesus nos pede no evangelho de São Mateus: ‘Me coloque em primeiro na sua vida. Eu prometi! Diz Jesus: “Tudo mais vos será acrescentando.’

Transcrição: Célia Grego
Fotos: Renan Félix

Vaticano ante a ONU: Opinar contra homossexualidade está dentro da liberdade de expressão


O representante da Santa Sé ante o Escritório da ONU em Genebra, Dom Silvano Tomasi, recordou ante este organismo que quem ataca os que têm opiniões contrárias ao comportamento homossexual violam o direito das pessoas à liberdade de expressão.
O Arcebispo interveio durante a discussão do item 8, “Orientação sexual”, na XVI sessão do Conselho dos Direitos humanos, e mostrou sua preocupação ante a “alarmante tendência” de “atacar pessoas por tomar posições de não apoiar as condutas sexuais entre pessoas do mesmo sexo”.
Dom Tomasi afirmou que a Igreja não justifica em nenhum caso a violência contra ninguém com motivo de suas preferências ou condutas sexuais, mas também advertiu que nas leis internacionais, o termo “orientação sexual” se refere a sentimentos e pensamentos e não a condutas. Por isso, advertiu, não estão justificados os ataques contra aqueles que se opõem a determinadas condutas sexuais, em virtude da liberdade de expressão e de crença.
“Quando eles expressam suas crenças morais ou suas crenças sobre a natureza humana, que podem ser também expressões de convicções religiosas, ou opiniões do Estado sobre reivindicações científicas, são estigmatizados, ou pior ainda, são desprezados e perseguidos”.
“A Santa Sé aproveita esta oportunidade para afirmar a dignidade e o valor de todos os seres humanos, e para condenar a violência dirigida contra as pessoas por causa de seus sentimentos e pensamentos sexuais, ou comportamentos sexuais”, acrescentou.
O Prelado afirmou que está se produzindo uma “confusão desnecessária” sobre o significado do termo “orientação sexual”, que segundo a legislação internacional vigente, refere-se a “sentimentos e pensamentos”, e não a “condutas”.
“Para os propósitos das leis dos direitos humanos, há uma diferença crítica entre sentimentos e pensamentos, por um lado, e comportamento, pelo outro. Um Estado nunca deveria castigar uma pessoa, ou privá-la do desfrute de nenhum direito humano, apoiando-se apenas nos sentimentos ou nos pensamentos desta pessoa, incluindo os sexuais”.
Entretanto, os Estados “podem, e devem, regular os comportamentos, incluindo vários comportamentos sexuais. Em todo mundo há um consenso entre as sociedades de que certos tipos de comportamentos sexuais devem ser proibidos por lei. A pedofilia e o incesto são dois exemplos”.
Por sua parte, afirmou, a Santa Sé “deseja afirmar sua crença profundamente sustentada de que a sexualidade humana é um dom que se expressa de modo genuíno na entrega completa e para toda a vida de um homem e uma mulher no matrimônio”.
“A sexualidade humana, como qualquer atividade voluntária, possui uma dimensão moral: é uma atividade que põe a vontade individual ao serviço de um fim; não é uma ‘identidade’. Em outras palavras, procede da ação e não do ser, inclusive embora algumas tendências ou “orientações sexuais” tenham raízes profundas na personalidade”.
“Negar a dimensão moral da sexualidade leva a negar a liberdade da pessoa nesta matéria, e escava em última instância sua dignidade ontológica”. Esta crença sobre a natureza humana também é compartilhada por muitas outras comunidades religiosas e por outras pessoas em consciência”, concluiu.
Fonte: http://www.acidigital.com/noticia.php?id=21483

Mensagem do Dia

"Chame Jesus no meio de todas as suas ocupações!" (Padre Pio de Pietrelcina)

Pe. Raniero Cantalamessa: Deus é amor Segunda Prédica de Quaresma ao Papa e à Cúria

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 1º de abril de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos a segunda pregação de Quaresma à Cúria Romana, realizada nesta sexta-feira, em presença do Papa, pelo padre Raniero Cantalamessa, OFMCap. 
* * *
Pe. Raniero Cantalamessa
Segunda Prédica de Quaresma
DEUS É AMOR
O primeiro e fundamental anúncio que a Igreja tem a missão de levar ao mundo, e que o mundo espera da Igreja, é o amor de Deus. Mas, para terem como transmitir esta certeza, é preciso que os próprios evangelizadores sejam intimamente permeados por esse amor, que tem que ser a luz da sua vida. É para esta meta que, pelo menos em mínima parte, a presente meditação pretende se dirigir.
A expressão “amor de Deus” tem duas acepções bem diferentes: uma em que Deus é objeto e a outra em que Deus é sujeito: uma que indica o nosso amor por Deus e a outra que indica o amor de Deus por nós. O homem, mais propenso por natureza a ser ativo que passivo, mais a ser credor que devedor, sempre deu precedência ao primeiro significado, àquilo que nós fazemos para Deus. A pregação cristã também seguiu esse caminho, falando, em certas épocas, quase só do “dever” de amar a Deus (“De diligendo Deo”).
Mas a revelação bíblica dá a prevalência ao segundo significado: ao amor “de” Deus, não ao amor “por” Deus. Aristóteles dizia que Deus move o mundo “porque é amado”, ou seja, é objeto de amor e causa final de toda criatura [1]. Mas a bíblia diz exatamente o contrário: Deus cria e move o mundo porque ama o mundo. O mais importante do amor de Deus não é que o homem ama a Deus, mas que Deus ama o homem e o ama “primeiro”: “Nisso está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele quem nos amou” (1 Jo 4,10). Disso depende todo o resto, incluída a nossa própria possibilidade de amar a Deus: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4,19).
1. O amor de Deus na eternidade
João é o homem dos grandes saltos. Ao reconstruir a história terrena de Cristo, os outros tinham se atido ao seu nascimento de Maria; ele viaja para muito antes, do tempo para a eternidade. “No princípio era o Verbo”. E faz o mesmo a respeito do amor. Todos os outros, Paulo inclusive, falaram do amor de Deus manifestado na história e culminado na morte de Cristo; João vai além da história. Não nos apresenta só um Deus que ama, mas um Deus queé amor. “No princípio era o amor, o amor estava junto de Deus e o amor era Deus”: assim podemos destrinchar a sua afirmação “Deus é amor” (1 Jo 4,10).
Sobre ela, Agostinho escreveu: “Se não houvesse, em toda esta carta e em todas as páginas da Escritura, nenhum elogio do amor além desta única palavra, que Deus é amor, não precisaríamos de nada mais” [2]. Toda a bíblia não faz senão “narrar o amor de Deus” [3]. Esta é a notícia que sustenta e explica todas as outras. Discute-se, sem fim, e não só de hoje, se existe Deus. Mas eu acho que o mais importante não é saber se Deus existe, mas se Ele é amor. Se, por hipótese [4], Ele existisse mas não fosse amor, teríamos mais a temer do que a nos alegrar com a sua existência, como ocorria nos primeiros povos e civilizações. A fé cristã nos assegura justo isso: Deus existe e é amor!
O ponto de partida da nossa viagem é a Trindade. Por que os cristãos crêem na Trindade? A resposta é: porque crêem que Deus é amor. Onde Deus é concebido como Lei suprema ou Poder supremo, não é preciso, evidentemente, uma pluralidade de pessoas, e, portanto, não se entende a Trindade. O direito e o poder podem ser exercidos por uma só pessoa. O amor não.
Não há amor sem que seja de algo ou de alguém, como, segundo o filósofo Husserl, não há conhecimento que não seja de algo. Quem é que Deus ama, para ser definido amor? A humanidade? Mas os homens só existem há poucos milhões de anos! Antes, a quem Deus amava, para ser definido amor? Ele não pode ter começado a ser amor a um certo ponto do tempo, porque Deus não pode mudar a sua essência. O cosmo? Mas o universo existe faz poucos bilhões de anos. Antes, o que Deus amava para poder-se definir amor? Não podemos dizer: amava a si mesmo, porque amar a si próprio não é amor, mas egoísmo, ou, como dizem os psicólogos, narcisismo.
E eis a resposta da revelação cristã que a Igreja recolheu de Cristo e explicitou no seu credo: Deus é amor em si mesmo, antes do tempo, porque desde sempre Ele tem em si um Filho, o Verbo, a quem ama com amor infinito, que é o Espírito Santo. Em todo amor há sempre três realidades ou sujeitos: um que ama, um que é amado e o amor que os une.
2. O amor de Deus na criação
Quando este amor-fonte se derrama no tempo, temos a história da salvação. A primeira etapa é a criação. O amor é, por natureza, “diffusivum sui”, tende a comunicar-se. Como “o agir segue o ser”, Deus, sendo amor, cria por amor. “Por que Deus nos criou?”: esta era a segunda pergunta do catecismo de antigamente, e a resposta era: “Para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo nesta vida e desfrutá-lo na outra, no paraíso”. Resposta parcial. Ela responde à pergunta sobre a causa final: “para quê, com que finalidade fomos criados por Deus”; não à pergunta sobre a causa causante: “por quê, por qual motivação, fomos criados por Deus”. Esta pergunta não tem como resposta “para o amarmos”, mas sim “porque Ele nos ama”.
Segundo a teologia rabínica, citada pelo Santo Padre no seu último livro sobre Jesus, “o cosmo é criado não para existirem múltiplos astros e tantas outras coisas, e sim para haver um espaço para a aliança, o sim do amor entre Deus e o homem que lhe responde” [5]. A criação existe para o diálogo de amor de Deus com as suas criaturas.
Como é distante, neste ponto, a visão cristã da origem do universo da visão do cientificismo ateu recordado no Advento! Um dos sofrimentos mais profundos para um jovem é descobrir, um dia, que ele está no mundo por acaso, não querido, não esperado, talvez por uma falha dos pais. Um certo cientificismo ateu parece empenhado em infligir esse tipo de sofrimento à humanidade inteira. Ninguém saberia nos convencer melhor que Santa Catarina de Sena de termos sido criados por amor, numa sua fervente prece à Trindade:
“Como criaste, então, ó Pai eterno, esta tua criatura? [...] O fogo te obrigou. Ó amor inefável! Embora em tua luz previsses toda as iniquidades que a tua criatura cometeria contra a tua bondade infinita, agiste como se não visses, e pousaste a vista na beleza da tua criatura, da qual, como louco e ébrio de amor, te enamoraste e, por amor, a extraíste de ti, dando-lhe o ser à tua imagem e semelhança! Tu, verdade eterna, declaraste a mim a tua verdade: que o amor te obrigou a criá-la”.
Isto não é só ágape, amor de misericórdia, de doação e de descida; é também eros em estado puro; é atração pelo objeto do próprio amor, estima e fascínio pela sua beleza.
3. O amor de Deus na revelação
A segunda etapa do amor de Deus é a revelação, a Escritura. Deus nos fala do seu amor sobretudo nos profetas. Diz em Oseias: “Quando Israel era um menino, eu o amei [...]. Eu ensinei Efraim a caminhar, conduzindo-o pelos braços [...]. Eu o atraía com laços humanos, com vínculos de amor; era, para eles, como quem retira o jugo e lhes dava docemente de comer [...]. Como poderia abandonar-te, Efraim? [...] O meu coração se comove inteiro dentro de mim, todas as minhas compaixões se acendem” (Os 11, 1-4).
Achamos esta mesma linguagem em Isaías: “Acaso uma mulher esquece o filho e não se comove pelo fruto do seu ventre?” (Is 49,15). E em Jeremias: “Efraim é o filho que amo, meu pequeno, meu encanto! Toda vez que o repreendo recordo-me disso, comove-se o meu âmago e cedo à compaixão” (Jer 31,20).
Nestes oráculos, o amor de Deus se expressa ao mesmo tempo como amor paterno e materno. O amor paterno é feito de estímulo e solicitude; o pai quer o filho crescido e levado à plena maturidade. Por isso o corrige e dificilmente o louva em sua presença, por medo que se ache pronto e não progrida mais. Já o amor materno é feito de acolhida e de ternura; é um amor visceral; parte das profundas fibras do ser da mãe, onde a criatura se formou, e ali enraíza toda a sua pessoa, fazendo-a “estremecer de compaixão”.
No âmbito humano, esse dois tipos de amor –viril e materno– são sempre, mais ou menos claramente, repartidos. O filósofo Sêneca dizia: “Não vês como é diferente a maneira de amar do pai e da mãe? Os pais acordam cedo os filhos para estudarem, não os deixam ociosos e os fazem derramar suor e às vezes lágrimas. As mães os embalam no colo, querem mantê-los por perto e evitam contrariá-los, fazê-los chorar e fazê-los cansar-se” [6]. Mas enquanto o Deus do filósofo pagão só tem pelos homens “o ânimo de um pai que ama sem fraqueza” (são palavras dele), o Deus bíblico tem também o ânimo da mãe que ama “com fraqueza”.
O homem conhece por experiência outro tipo de amor, do qual se diz que é “forte como a morte e suas centelhas são centelhas de fogo” (cf. Ct 8,6), e também a esse tipo de amor Deus recorreu, na bíblia, para nos dar uma ideia do seu amor apaixonado por nós. Todas as fases e vicissitudes do amor esponsal são evocadas e usadas para esse fim: o encanto do amor no estado nascente do namoro (cf. Jer 2,2); a plenitude da alegria do dia do casamento (cf. Is 62,5); o drama do rompimento (cf. Os 2,4) e, por fim, o renascer, cheio de esperança, do vínculo antigo (cf. Os 2,16; Is 54,8).
amor esponsal é, fundamentalmente, um amor de desejo e de escolha. Se é verdade, então, que o homem deseja Deus, é verdade, misteriosamente, também o contrário: que Deus deseja o homem, quer e aprecia o seu amor, se alegra com ele “como o esposo se alegra com a esposa” (Is 62,5)!
Como o Santo Padre realça na Deus caritas est, a metáfora nupcial que atravessa quase toda a bíblia e inspira a linguagem da “aliança” é a melhor prova de que o amor de Deus por nós também é eros e ágape, é dar e buscar juntos. Não pode ser reduzido a pura misericórdia, a um “fazer caridade” ao homem, no sentido mais diminuído da expressão.
4. O amor de Deus na encarnação
Chegamos assim à etapa culminante do amor de Deus, a encarnação: “Deus tanto amou o mundo que lhe deu seu unigênito” (Jo 3,16). Diante da encarnação, perguntamos o mesmo que nos perguntamos na criação: por que Deus se fez homem? Cur Deus homo? Por muito tempo, a resposta foi: para nos redimir do pecado. Duns Scoto aprofundou esta resposta, fazendo do amor o motivo fundamental da encarnação, como de todas as outras obras ad extra da Trindade.
Deus, conforme Scoto, ama primeiramente a si mesmo; segundo, quer outros seres que o amem (“secundo vult alios habere condiligentes”). Se Ele decide a encarnação, é para que exista outro ser que o ame com o máximo amor possível fora dele mesmo [7]. A encarnação, portanto, teria ocorrido ainda que Adão não tivesse pecado. Cristo é o primeiro pensado e o primeiro querido, o “primogênito da criação” (Col 1,15), não a solução para um problema levantado a seguir com o pecado de Adão.
Mas a resposta de Scoto também é parcial e precisa do complemento da Escritura quanto ao amor de Deus. Deus quis a encarnação do Filho não só para ter alguém fora de si mesmo que o amasse de maneira digna de si, mas também e principalmente para ter fora de si mesmo alguém a quem amar de maneira digna de si! E este é o Filho feito homem, em quem o Pai “encontra toda a sua complacência” e com quem fomos todos feitos “filhos no Filho”.
Cristo é a prova suprema do amor de Deus pelo homem, não só em sentido objetivo, como penhor inanimado do próprio amor dado a outro, mas em sentido também subjetivo. Em outras palavras, não é só a prova do amor de Deus, mas é o próprio amor de Deus que tomou forma humana para pode amar e ser amado a partir de dentro da nossa situação. No princípio era o amor e “o amor se fez carne”: assim parafraseia um antiquíssimo escrito cristão as palavras do prólogo de João [8].
São Paulo cunha uma expressão sob medida para esta nova modalidade do amor de Deus: “o amor de Deus que é em Cristo Jesus” (Rm 8,39). Se, como dizia da vez passada, todo o nosso amor por Deus deve expressar-se concretamente em amor por Cristo, é porque todo amor de Deus por nós foi antes expresso e recolhido em Cristo.
5. O amor de Deus infundido nos corações
A história do amor de Deus não acaba na Páscoa de Cristo, mas se prolonga no Pentecostes que atualiza e mantém operante “o amor de Deus em Cristo Jesus” até o fim do mundo. Não somos obrigados, portanto, a viver só da lembrança do amor de Deus, como de coisa passada. “O amor de Deus foi infundido nos nossos corações mediante o Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
Mas o que é esse amor, que foi derramado em nosso coração no batismo? É um sentimento de Deus por nós? Uma benévola disposição de Deus a nosso respeito? Uma inclinação? Algo, enfim, de intencional? É muito mais; é algo real. É, ao pé da letra, o amor de Deus, o amor que circula na Trindade entre Pai e Filho e que, na encarnação, assumiu uma forma humana e agora nos é participado sob a forma de “inabitação”. “O meu Pai o amará e a ele nós viremos e nele faremos morada” (Jo 14,23).
Tornamo-nos “partícipes da natureza divina” (2 Pd 1,4), ou partícipes do amor divino. Encontramo-nos por graça, explica São João da Cruz, dentro do vórtice de amor que flui desde sempre na Trindade entre o Pai e o Filho [9]. Melhor ainda: entre o vórtice de amor que agora flui, no céu, entre o Pai e o seu Filho Jesus Cristo, ressuscitado da morte, de quem nós somos os membros.
6. Nós acreditamos no amor de Deus!
Veneráveis padres, irmãos e irmãs, esta que tracei pobremente é a revelação objetiva do amor de Deus na história. Agora olhemos para nós: o que faremos, o que diremos depois de ter escutado o quanto Deus nos ama? Uma primeira resposta é: reamar a Deus! Não é, este, o primeiro e o maior dos mandamentos da lei? Sim, mas isto vem depois. Outra resposta possível: amar-nos como Deus nos amou! Não diz o evangelista João que, se Deus nos amou, “também nós devemos amar uns aos outros” (1 Jo 4,11)? Isso também vem depois. Primeiro temos outra coisa a fazer. Crer no amor de Deus! Depois de dizer que “Deus é amor”, o evangelista João exclama: “Nós acreditamos no amor que Deus tem por nós!” (1 Jo 4,16).
É a fé. Mas aqui se trata de uma fé especial: a fé-estupor, a fé incrédula (um paradoxo, eu sei, mas verdadeiro!), a fé que não sabe entender daquilo em que crê, mesmo crendo. Como é possível que Deus, sumamente feliz na sua quieta eternidade, tenha tido o desejo não só de nos criar, mas até de vir em pessoa sofrer em meio a nós? Como é que isto é possível? Pronto: esta é a fé-estupor, a fé que nos faz felizes.
O grande converso e apologeta da fé Clive Staples Lewis (autor do ciclo narrativo de Nárnia, recentemente levado ao cinema) escreveu uma obra singular intitulada “As Cartas do Coisa-Ruim”. São cartas que um diabo velho escreve a um diabinho jovem e inexperiente, que tem a missão na terra de desencaminhar um jovem londrino recém-retornado à prática cristã. A meta é instruir o diabinho quanto às estratégias para atingir o objetivo. Trata-se de um moderno, finíssimo tratado de moral e ascética, a ser lido pelo contrário, fazendo exatamente o oposto do que é aconselhado.
A um certo ponto, o autor nos faz assistir a uma espécie de discussão entre os demônios. Eles não conseguem entender que o Inimigo (é assim que eles se referem a Deus) ame de verdade “os vermes humanos e deseje a liberdade deles”. Eles têm certeza de que isso não pode ser. Deve haver, necessariamente, uma farsa, um truque. Estamos nos perguntando isso, dizem eles, desde o dia em que o Nosso Pai (é assim que eles chamam Lúcifer), justo por este motivo, se afastou dele; ainda não descobrimos, mas um dia descobriremos [10]. O amor de Deus pelas suas criaturas é, para eles, o mistério dos mistérios. E eu acredito que, pelo menos nisso, os demônios têm razão.
Pareceria uma fé fácil e agradável; mas é, talvez, a coisa mais difícil que exista, até para nós, criaturas humanas. Acreditamos, nós, de verdade mesmo, que Deus nos ama? Não é que não creiamos de verdade, mas pelo menos não cremos o suficiente. Se acreditássemos, a vida, nós mesmos, as coisas, os fatos, a própria dor, tudo se transfiguraria rapidamente diante dos nossos olhos! Hoje mesmo estaríamos com ele no paraíso, porque o paraíso é isso: gozar da plenitude do amor de Deus.
O mundo sempre foi dificultando mais acreditar no amor. Quem foi traído ou ferido uma vez, tem medo de amar e ser amado, porque sabe o quanto dói ver-se enganado. Por isso vai sempre crescendo a fila dos que não conseguem acreditar no amor de Deus; ou pior: em amor nenhum. O desencanto e o cinismo são a moldura da nossa cultura secularizada. No pessoal, temos ainda a experiência da nossa pobreza e miséria, que nos faz dizer: “Sim, o amor de Deus é bonito, mas não é pra mim! Eu não sou digno...”.
Os homens precisam saber que Deus os ama e ninguém melhor que os discípulos de Cristo para lhes dar essa boa notícia. Outros, no mundo, compartilham com os cristãos o temor de Deus, a preocupação com a justiça social e o respeito do homem, com a paz e a tolerância; mas ninguém –ninguém!– entre os filósofos, nem entre as religiões, diz ao homem que Deus o ama, o ama primeiro, e o ama com amor de misericórdia e de desejo: com eros e com ágape.
São Paulo nos sugere um método para aplicar à nossa existência concreta a luz do amor de Deus. Escreve: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Mas em todas essas coisas nós somos mais que vencedores, em virtude daquele que nos amou” (Rm 8, 35-37). Os perigos e os inimigos do amor de Deus que ele enumera são aqueles que, de fato, ele experimentou na vida: angústia, perseguição, espada... (cf. 2 Cor 11,23). Ele os repassa na mente e constata que nenhum deles é forte o bastante para triunfar quando se pensa no amor de Deus.
Nós estamos convidados a fazer como Ele: olhar para a nossa vida, do jeito que ela se apresenta, e trazer à tona os medos que se aninham nela, as tristezas, ameaças, complexos, aquele defeito físico ou moral, aquela lembrança doída que nos humilha, e escancarar tudo à luz do pensamento de que Deus me ama.
Da sua vida pessoal, o Apóstolo estende o olhar para o mundo que o circunda. “Eu estou certo de que nem a morte, nem a vida; nem anjos nem principados; nem presente nem futuro; nem potestades, nem altura, nem profundidade, nem nenhuma outra criatura poderá jamais nos separar do amor de Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8, 37-39). Ele observa o seu mundo, com as potências que o tornavam ainda mais ameaçador: a morte com o seu mistério, a vida presente com as suas lisonjas, as potências astrais ou infernais que incutiam tanto terror no homem de antigamente.
Nós podemos fazer igual: olhar para o mundo que nos circunda e que nos dá medo. A altura e a profundidade são hoje, para nós, o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, o universo e o átomo. Tudo está pronto para nos esmagar; o homem é frágil e só, num universo tantas e tantas vezes maior do que ele, e que se tornou, além disso, ainda mais ameaçador depois das descobertas científicas que o homem fez e não consegue dominar, como a crise dos reatores nucleares de Fukushima está dramaticamente nos demonstrando.
Tudo pode ser questionado, todas as certezas podem nos faltar, mas nunca esta: Deus nos ama e é mais forte do que tudo. “O nosso auxílio está no nome do Senhor que fez o céu e a terra”.
Notas:
1. Aristóteles, Metafísica, XII, 7, 1072b.
2. S. Agostinho, Tratados sobre a primeira carta de João, 7, 4.
3. S. Agostinho, De catechizandis rudibus, I, 8, 4: PL 40, 319.
4. Cf. S. Kierkegaard, Discursos edificantes..., 3: O Evangelho dos sofrimentos, IV.
5. Bento XVI, Jesus de Nazaré, II Parte, Livraria Editora Vaticana, 2011, p. 93.
6. Sêneca, De Providentia, 2, 5 s.
7. Duns Scoto, Opus Oxoniense, I,d.17, q.3, n.31; Rep., II, d.27, q. un., n.3
8. Evangelium veritatis (dos Códigos de Nag-Hammadi).
9. Cf. S. João da Cruz, Cântico espiritual, A, estrofe 38.
10. C.S. Lewis, The Screwtape Letters, 1942, cap. XIX.
[Traduzido do original italiano por ZENIT]

sexta-feira, 1 de abril de 2011

IV DOMINGO DA QUARESMA - Liturgia da Palavra: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor Leituras: 1 Sm 1b.6-7.10-13a; Ef 5, 8-14; Jo 9, 1- 41

DOMINGO IV DE QUARESMA
Leituras: 1 Sm 1b.6-7.10-13a; Ef 5, 8-14; Jo 9, 1- 41

 “Laetare, Jerusalém!” Com o nome derivado da primeira palavra latina da Antífona de Entrada, este 4º domingo da quaresma, é apelidado de “Domingo Laetare”, dia de alegria e de luz que antecipa a grande alegria da páscoa. É o próprio Senhor e seu amor fiel, amplamente demonstrado ao longo da história, a razão última da alegria e da esperança para Jerusalém, cidade que o Senhor escolheu e amou como sua esposa. Para ela e junto com ela, ele vai construir um novo futuro, quase uma nova criação - “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações! (Antífona de Entrada - Is 66, 10-11).
Com o olhar penetrante da fé, a Igreja vislumbra na profecia de Isaías o evento salvador de Cristo e a própria sorte, junto com a da nova humanidade gerada na sua cruz e ressurreição.
Eis a luz de Cristo! Demos graças a Deus!” Este é o grito de alegria, cantado por três vezes em tom crescente, com o qual a Igreja abre a grande Vigília da noite da Páscoa. É a alegre expressão da fé que o Senhor Ressuscitado está presente no meio da assembléia celebrante e que ela mesma está participando por graça à sua ressurreição. O grande Círio pascal, aceso no fogo novo, e em cuja flama vão se acendendo aos poucos as velas da assembléia orante a caminho, rumo ao recinto da Igreja, é símbolo do próprio Cristo morto e ressuscitado. Ele precede a comunidade dos que acreditam nele, e com sua obra e sua palavra, quebra o domínio das trevas e ilumina o caminho novo da humanidade.
O evento da páscoa de Jesus, com sua vitória sobre as trevas do pecado e da morte, constitui a origem e a meta do caminho do povo de Deus que fica peregrinando na história, iluminado por Cristo. A sua celebração sacramental na noite da Páscoa constitui por sua vez a origem e a meta do caminho quaresmal que cada ano se renova, para atingir, através do dinamismo do Espírito do ressuscitado, uma participação sempre mais profunda à vida de Cristo.
“Irmãos, outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz” (2 leitura – Ef 5,8). O apóstolo destaca que com o batismo não só gozamos da luz do Senhor paraconduzir uma vida certa, mas que em força desta relação vital para com ele, “somos luz” no Senhor, participamos do seu ser, da sua vida. Desta participação nasce a possibilidade e o chamado a viver como “filhos da luz”, isso é a atuar e agir com seu mesmo estilo.
O batismo constitui a inserção dos fiéis no dinamismo vital da páscoa do Senhor. A Igreja, com sábia pedagogia, através da liturgia da palavra dos domingos da quaresma, nos introduz progressivamente no mistério pascal e no coração da iniciação cristã, quase antecipando em síntese o caminho da Vigília pascal.
O Lecionário, reestruturado pela reforma promovida pelo Concílio Vaticano II, nos entregou novamente, numa sucessão orgânica e eloqüente, as leituras bíblicas que desde os séculos antigos ilustravam na liturgia de Roma o caminho dos catecúmenos rumo à iniciação cristã. Ao longo do tempo ficara perdido o sentido da quaresma como caminho de iniciação, em favor da quaresma como caminho penitencial. As leituras bíblicas correspondentes ficaram dispersas em variadas celebrações das férias, sem a visão original de conjunto. O povo de Deus não teve mais contato orgânico com elas.
Sobretudo na quaresma - páscoa experimentamos a verdade profunda das afirmações do papa Bento XVI quando menciona a importância do atual Lecionário das Missas: “A reforma desejada pelo Concílio Vaticano II mostrou os seus frutos, tornando mais rico o acesso à Sagrada Escritura que é oferecida abundantemente sobretudo nas leituras do domingo. A estrutura atual, além de apresentar com freqüência os textos mais importantes da Escritura, favorece a compreensão da unidade do plano divino, através da correlação entre as leituras do Antigo e do Novo Testamento, centrada em Cristo e no seu mistério pascal” (Exortação Apostólica Verbum Domini (2010), n. 57).
Nas catequeses oferecidas aos catecúmenos nas homilias mistagógicas dos Padres da Igreja, ou através das imagens dos mosaicos que ornavam as paredes das igrejas antigas, a cena de Jesus que cura o cego de nascença ocupava um lugar central. Como em toda a narrativa do evangelista João, também na narração deste episódio, encontramos a dimensão do evento milagroso e o seu valor de “sinal” destinado a suscitar a fé dos protagonistas e a iluminar a fé dos leitores de cada tempo.
No relato encontramos dois processos interiores que vão num sentido contrário. O cego passa através de um caminho de iluminação interior que o conduz progressivamente a penetrar sempre mais profundamente o mistério de Jesus e sua relação com ele: reconhece em Jesus inicialmente o homem (Jo 9,11), depois o profeta (v.17), um homem que procede de Deus (v. 33), para desaguar ao fim na confissão da sua fé plena em Jesus Senhor (v. 38).
Ao contrário, as autoridades se envolvem numa progressiva cegueira. Não querem reconhecer a manifestação de Deus em Jesus. Prisioneiros dos próprios preconceitos, presumem “ver e julgar” a Jesus (v. 24), ameaçam e insultam o cego (v. 28) e ao fim, o expulsam da comunidade (v. 34-35). Na realidade eles mesmos constroem o próprio julgamento de condenação diante de Deus (v. 39-41).
A aceitação ou a recusa de Jesus se torna critério de julgamento autêntico da qualidade das obras de cada pessoa e da sua real escolha entre a luz e as trevas. O duplo dinamismo que encontramos na relação do cego e das autoridades judaicas com Jesus, se torna um critério permanente para avaliar a relação de cada um com Jesus. “O julgamento consiste nisso: a luz veio no mundo, e os homens preferiram as trevas à luz. É que suas ações eram más. Quem age mal detesta a luz e não se aproxima da luz, para que não delate suas ações. Quem procede lealmente aproxima-se da luz, para que se manifeste que procede movido por Deus” (Jo 3, 19-21).
O batismo era indicado nas catequeses dos Padres da Igreja como “iluminação” e aqueles que eram batizados eram chamados de “iluminados”. Ainda hoje um pequeno, mas significativo rito complementar da celebração do batismo, põe em evidência sua dimensão iluminadora, que abre o caminho para seguir a Jesus e partilhar seus critérios de julgamento, que não olham as aparências enganadoras mas a verdade profunda das coisas e das pessoas.
É a entrega da vela batismal acesa no círio pascal e entregue ao batizado adulto ou aos pais e padrinhos da criança, com as palavras: “Recebei a luz de Cristo. Caminha sempre como  filho da luz, para que perseverando na fé, possas ir ao encontro do Senhor com todos os santos no reino celeste” (Rito da Iniciação Cristã dos Adultos (RICA). N. 265).
A avaliação inicial do profeta Samuel sobre os filhos de Jessé, guiado pelo aspecto exterior, e a escolha final de Davi, o mais novo, depois da correção do profeta por parte do próprio Deus, é exemplo significativo da diferença que passa entre o julgamento dos homens e o de Deus (1ª leitura). 
Como os prefácios dos outros domingos da quaresma, o de hoje proclama o louvor ao Pai, estruturando as razões específicas do seu canto a partir da mensagem fundamental do Evangelho e da sua relação intrínseca com o batismo. “Pelo mistério da encarnação, Jesus conduziu a luz da fé à humanidade que caminhava nas trevas. E elevou à dignidade de filhos e filhas os escravos do pecado, fazendo-os renascer das águas do batismo”. Este texto é um exemplo muito significativo de como toda nossa oração deveria deixar-se inspirar pela Palavra proclamada na liturgia ou meditada pessoalmente. A escuta amorosa do Pai tem que ter o primeiro lugar na oração cristã. A escuta na fé produz a palavra confiante dos filhos e das filhas. Nisto a liturgia é grande mestre de vida espiritual e de oração.
A luz/vida recebida no batismo é uma potencialidade divina a desenvolver, deixando-se guiar pela luz interior do Espírito, e procurando viver coerentemente segundo os impulsos interiores do mesmo, que conduz a um estilo de vida no qual se manifesta e resplandece a luz do mesmo Cristo. “Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se bondade, justiça, verdade. Discerni o que agrada ao Senhor. Não vos associais às obras das trevas que não levam a nada; antes desmascarai-as.... Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá” (Ef 5, 8-11;14).
Na linha desta perspectiva da conformação progressiva a Cristo realizada pela sua luz transformadora, o apóstolo destaca como o caminho do discípulo, ao longo da vida, fica sendo um duro combate espiritual entre a luz de Cristo e as trevas do mundo que em nós habitam e nos circundam, e que tendem a nos ocupar novamente. É preciso fortalecer-se do poder de Deus e revestir-se da armadura do Espírito e de todos seus instrumentos (Ef 6, 10-17).
Desde o início a sorte do Verbo, que é a vida e a luz, é a de brilhar nas trevas, de encontrar oposição, mas as trevas não conseguem apreendê-la. Pois ela é a verdadeira luz que ilumina todo homem ao vir ao mundo (cf. Jo 1, 4-5; 9).
No contexto da solene festa judaica das cabanas, que celebrava a memória da grande aventura do êxodo, quando a nuvem e a coluna luminosa tinham guiado o caminho do povo de Deus no deserto, João faz proclamar a Jesus uma das suas auto-definições mais potentes, capaz de orientar e sustentar o caminho atribulado e as esperanças dos discípulos de todo tempo: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
Paradoxo da fé! Os místicos nos falam das terríveis experiências das trevas por eles experimentadas de maneira crescente e cada vez mais doloridas, na medida em que a graça do Senhor os introduz no conhecimento e na comunhão mais profunda para com ele.
A saída de Judas da sala da última ceia de Jesus com os discípulos, depois de ter tomado o bocado do pão molhado das mãos do próprio Jesus, marca o cume da prepotência das trevas:“Atrás do bocado entrou nele Satanás... Apenas tomou o bocado, saiu. Era noite” (Jo 13, 27;30). Mas a entrega de Jesus em plena liberdade aos inimigos, junto com a afirmação da sua suprema liberdade de Filho, se torna origem da liberdade dos discípulos frente à violência das trevas ao longo da história.
Não parece um paradoxo a afirmação de Jesus que também os discípulos, na medida em que se deixam envolver na sua experiência de total dedicação ao Pai, se tornarão eles mesmos luz irradiante da luz de Cristo para o mundo: iluminados e iluminadores. “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte.... Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está no céus” (Mt 5, 14 – 16).  
A perspectiva final da história, vislumbrada pelo profeta, e permeada pelo fermento da páscoa, não seja talvez a de uma cidade ao fim radicalmente transfigurada pela luz transformadora do Cordeiro e iluminada pela glória de Deus? “Não vi nenhum templo nela, pois o seu templo é o Senhor, o Deus todo poderoso, e o Cordeiro. A cidade não precisa do sol ou da lua para a iluminar, pois a glória de Deus a ilumina, e sua lâmpada é o Cordeiro” (Ap 21, 22-23).
“Oh noite feliz, só tu, soubeste a hora em que o Cristo da morte ressurgia; é por isso que de ti foi escrito: A noite será luz para o meu dia! (Exultet – Proclamação da Páscoa)





Por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração
SÃO PAULO, quinta-feira, 31 de março de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos o comentário à liturgia do próximo domingo – VI da Quaresma 1 Sm 1b.6-7.10-13a; Ef 5, 8-14; Jo 9, 1- 41 – redigido por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração (Mogi das Cruzes - São Paulo). Doutor em liturgia pelo ‘Pontificio Ateneo Santo Anselmo’ (Roma), Dom Emanuele, monge beneditino camaldolense, assina os comentários à liturgia dominical, às quintas-feiras, na edição em língua portuguesa da Agência ZENIT.

Mensagem do Dia

"Quem se apega às coisas terrenas, a elas fica sempre apegado. Com certeza devemos deixá-las um dia. É melhor desapegar-nos um pouco por vez do que de uma só vez." (Padre Pio de Pietrelcina)

Catequese do Papa: Santo Afonso Maria de Ligório

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 30 de março de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Praça de São Pedro para a audiência geral.
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Queridos irmãos e irmãs:Hoje eu gostaria de vos apresentar a figura de um santo Doutor da Igreja, a quem devemos muito, pois foi um eminente teólogo e mestre de vida espiritual para todos, especialmente para as pessoas simples. Ele é o autor da letra e da melodia de uma das canções natalinas mais famosas da Itália, ‘Tu scendi dalle stelle', além de muitas outras coisas.
Pertencente a uma família napolitana rica e nobre, Afonso Maria de Ligório nasceu em 1696. Dotado de grandes qualidades intelectuais, com apenas 16 anos se graduou em direito civil e canônico. Era o advogado mais brilhante do fórum de Nápoles: durante oito anos, ganhou todas as causas que defendeu. No entanto, sua alma estava sedenta de Deus e desejosa da perfeição; assim, o Senhor fez-lhe compreender que era outra a vocação à qual o chamava. De fato, em 1723, indignado pela corrupção e injustiça que assolou o ambiente à sua volta, ele abandonou a sua profissão - com ela, a riqueza e sucesso - e decidiu se tornar sacerdote, apesar da oposição paterna. Teve excelentes professores, que o introduziram no estudo da Sagrada Escritura, da História da Igreja e da mística. Adquiriu uma vasta cultura teológica, que começou a dar frutos quando, alguns anos mais tarde, ele começou seu trabalho de escritor. Foi ordenado sacerdote em 1726 e entrou, para o exercício do seu ministério, na Congregação diocesana das Missões Apostólicas. Afonso iniciou a evangelização e catequese entre os estratos inferiores da sociedade napolitana, a quem gostava de pregar e instruía nas verdades fundamentais da fé. Muitas dessas pessoas, pobres e modestas, às quais se dirigiu, frequentemente se dedicavam aos vícios e a operações criminosas. Pacientemente, ensinava-as a orar, incentivando-as a melhorar a sua maneira de viver. Afonso obteve excelentes resultados: no bairro mais miserável da cidade, multiplicavam-se grupos de pessoas que, no final da tarde, se reuniam em casas particulares e nas oficinas, para rezar e meditar sobre a Palavra de Deus, sob a orientação de um catequista formado por Afonso e por outros sacerdotes, que visitavam regularmente esses grupos de fiéis. Quando, a pedido do arcebispo de Nápoles, estas reuniões começaram a ser realizadas nas capelas da cidade, receberam o nome de "capelas noturnas". Isso foi uma verdadeira e apropriada fonte de educação moral, de reparação social, de ajuda mútua entre os pobres: ele pôs termo aos roubos, duelos, prostituição, até quase desaparecerem.
Ainda que o contexto social e religioso da época de Santo Afonso tenha sido muito diferente do nosso, as "capelas noturnas" são um modelo de atividade missionária e também podem inspirar-nos hoje para uma "nova evangelização", em especial dos mais pobres, e para construir uma convivência humana mais justa e fraterna. Aos sacerdotes foi confiado o dever de ministério espiritual, enquanto os leigos bem formados podem ser eficazes animadores cristãos, verdadeiro fermento evangélico dentro da sociedade.
Depois de ter pensando em ir evangelizar os povos pagãos, Afonso, aos 35 anos, entrou em contato com agricultores e pastores das regiões interiores do Reino de Nápoles e, estupefato pelo seu desconhecimento da religião e o estado de abandono em que se encontravam, decidiu deixar a capital e dedicar-se a essas pessoas, que eram pobres espiritual e materialmente. Em 1732, fundou a Congregação Religiosa do Santíssimo Redentor, que ficou sob a tutela de Dom Tommaso Falcoia e da qual se tornou superior. Estes religiosos, dirigidos por Afonso, foram autênticos missionários itinerantes, chegaram até as aldeias mais remotas, exortando à conversão e à perseverança na vida cristã, sobretudo através da oração. Ainda hoje, os Redentoristas, espalhados por muitos países do mundo, com novas formas de apostolado, continuam esta missão de evangelização. Penso neles com o reconhecimento, exortando-os a ser sempre fiéis ao exemplo de seu Santo Fundador.
Apreciado pela sua bondade e seu zelo pastoral, em 1762 Afonso foi nomeado bispo de ‘Sant'Agata dei Goti', ministério que deixou em 1775 por causa das doenças que sofria, por concessão do Papa Pio VI. O próprio Pontífice, em 1787, ao receber a notícia de sua morte, que ocorreu com muito sofrimento, exclamou: "Era um santo!". E ele estava certo: Afonso foi canonizado em 1839 e, em 1871, foi declarado Doutor da Igreja. Este título lhe foi concedido por muitas razões. Primeiro, ele propôs um rico ensinamento de teologia moral, que expressa adequadamente a doutrina católica, a ponto de ser proclamado pelo Papa Pio XII como "padroeiro de todos os confessores e moralistas". Em sua época, difundiu-se uma interpretação muito rígida da vida moral, talvez por causa da mentalidade jansenista, que, ao invés de alimentar a confiança e a esperança na misericórdia de Deus, fomentava o medo e apresentava um rosto de Deus severo e rígido, muito longe do revelado por Jesus. Santo Afonso, especialmente em sua principal obra, intitulada "Teologia Moral", propõe uma síntese equilibrada e convincente entre as exigências da lei de Deus, gravada em nossos corações, revelada plenamente por Cristo e interpretada com autoridade pela Igreja, e os dinamismos da consciência e da liberdade do homem, que, na adesão à verdade e ao bem, permitem a maturação e realização pessoal. Aos pastores de almas e confessores, Afonso recomendava que fossem fiéis à doutrina moral católica, assumindo, ao mesmo tempo, uma atitude caritativa, compreensiva, doce, para que os penitentes se sentissem acompanhados, apoiados e incentivados em sua jornada de fé e de vida cristã. Santo Afonso não se cansava de dizer que os padres são um sinal visível da infinita misericórdia de Deus, que perdoa e ilumina a mente e o coração do pecador, para que se converta e mude de vida. Na nossa época, na qual são claros os sinais de perda da consciência moral e - deve ser admitido - certa falta de apreço pelo Sacramento da Confissão, o ensinamento de Santo Afonso é ainda muito atual.
Junto às obras de teologia, Santo Afonso compôs muitos outros escritos, destinados à formação religiosa do povo. Seu estilo é simples e agradável. Lidas e traduzidas em várias línguas, as obras de Santo Afonso contribuíram para moldar a espiritualidade popular nos últimos dois séculos. Alguns desses textos oferecem grandes benefícios, ainda hoje, tais como "Máximas eternas", "As glórias de Maria", "A prática do amor a Jesus Cristo", obra - esta última - que representa a síntese do seu pensamento e sua obra-prima. Insiste muito na necessidade da oração, que permite abrir-se à graça divina para cumprir cotidianamente a vontade de Deus e obter a própria santificação. Com relação à oração, escreve: "Deus não nega a ninguém a graça da oração, com a qual se obtém a ajuda para vencer toda concupiscência e toda tentação. E digo, replico e replicarei sempre, durante toda a minha vida, que toda a nossa salvação está em rezar". Daí seu famoso axioma: "Quem reza se salva", de "Do Grande Meio da Oração e opúsculos afins" (Obras Ascéticas II, Roma, 1962, p. 171). Vem à minha mente, a propósito disso, a exortação do meu predecessor, o Venerável Servo de Deus João Paulo II: "As nossas comunidades cristãs devem tornar-se autênticas ‘escolas de oração' (...). É preciso, portanto, que a educação na oração de alguma forma se torne um ponto determinante de toda a programação pastoral" (Carta Apostólica ‘Novo Millennio Ineunte', 33 e 34).
Entre as formas de oração fortemente recomendadas por Santo Afonso, destaca-se a visita ao Santíssimo Sacramento ou, como dizemos hoje, a adoração, curta ou longa, pessoal ou comunitária, diante da Eucaristia. "Certamente - escreve Afonso -, entre todas as devoções, esta de adorar Jesus sacramentado é precisamente, depois dos sacramentos, a mais querida por Deus e a mais útil para nós. (...) Oh! Que belo é estar na frente de um altar com fé (...), apresentando nossas necessidades, como faz um amigo a outro, em quem confia totalmente!" ("Visitas ao Santíssimo Sacramento, a Nossa Senhora e a São José para cada dia do mês". Introdução). A espiritualidade de Afonso é, de fato, eminentemente cristológica, centrada em Cristo e em seu Evangelho. A meditação sobre o mistério da Encarnação e da Paixão do Senhor muitas vezes é o tema de sua pregação. Nestes eventos, a Redenção é oferecida a todos os homens "copiosamente". E justamente porque é cristológica, a piedade afonsiana é também eminentemente mariana. Muito devoto a Maria, Afonso ilustra o seu papel na história da salvação: sócia da Redenção e mediadora da graça, mãe, advogada e rainha. Além disso, Santo Afonso diz que a devoção a Maria nos confortará no momento da nossa morte. Ele acreditava que meditar sobre o nosso destino eterno, sobre o nosso chamado a participar para sempre da bem-aventurança de Deus, assim como a possibilidade trágica da condenação, ajuda a viver com serenidade e compromisso, e a enfrentar a realidade da morte mantendo sempre a confiança na bondade de Deus.
Santo Afonso Maria de Ligório é um exemplo de pastor zeloso, que conquistou as almas pregando o Evangelho e administrando os sacramentos, combinados com uma maneira de fazer baseada em uma bondade humilde e suave, que nascia de uma relação intensa com Deus, que é a Bondade infinita. Ele teve uma visão realista e otimista dos recursos do bem que o Senhor dá a cada homem e deu importância aos afetos e aos sentimentos do coração, além a mente, para poder amar a Deus e ao próximo.
Em conclusão, eu gostaria de recordar que o nosso santo, à semelhança de São Francisco de Sales, de que falei há algumas semanas, insiste em que a santidade é acessível a todos os cristãos: "O religioso por religioso, o leigo por leigo, o sacerdote por sacerdote, o casado por casado, o comerciante por comerciante, o soldado por soldado, e assim falando em todos os estados" ("A prática do amor a Jesus Cristo". Obras Ascéticas I, Roma, 1933, p. 79). Agradeçamos ao Senhor que, na sua providência, suscita santos e doutores em diferentes épocas e lugares, que falam a mesma linguagem para nos convidar-nos a crescer na fé e a viver com amor e alegria o nosso ser cristãos nas ações simples de todos os dias, para caminhar na via da santidade, no caminho rumo a Deus e à verdadeira alegria. Obrigado.
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]
Queridos irmãos e irmãs:

Corria o ano de 1732, quando Santo Afonso Maria de Ligório fundou a Congregação do Santíssimo Redentor. Autênticos missionários itinerantes, os padres redentoristas foram até às aldeias mais distantes, exortando à conversão e à perseverança na vida cristã, sobretudo por meio da oração. Assim aprenderam do seu Fundador, o qual lhes recomendava que fossem fiéis à doutrina moral católica, mas assumindo uma atitude cheia de caridade e compreensão com os pecadores. Os sacerdotes - ensinava ele - são um sinal visível da misericórdia infinita de Deus, que perdoa e ilumina a mente e o coração do pecador, para que se converta e mude de vida. Este ensinamento de Santo Afonso é de grande actualidade neste nosso tempo, em que há claros sinais de perda da consciência moral e - com preocupação, o reconhecemos - de falta de estima pelo sacramento da Reconciliação.
Amados peregrinos de língua portuguesa, queridos fiéis da paróquia de Santa Maria do Barreiro, na diocese de Setúbal: a minha saudação amiga para todos vós, com votos de um frutuoso empenho na caminhada quaresmal que estais fazendo. Que nada vos impeça de viver e crescer na amizade de Deus, e testemunhar a todos a sua bondade e misericórdia! Sobre vós e vossas famílias, desça a minha bênção apostólica.
[Tradução: Aline Banchieri.© Libreria Editrice Vaticana]