terça-feira, 27 de setembro de 2011

Discurso do Papa no Parlamento alemão ainda repercute.


Antonio Socci
Do “Libero”, 25 de setembro de 2011
Nestes dias na Alemanha o Papa foi recebido por várias manifestações hostis e, segundo uma pesquisa, dois terços dos católicos alemães (em debandada graças a décadas de liderança progressista da Igreja alemã) definiram “pouco ou nada importante” para eles a visita do Papa.
Enquanto isto cem parlamentares polemicamente se ausentaram quando ele devia falar no Bundestag.
Tanta intolerância e tantos preconceitos mostram-se ainda mais desmotivados vista a admiração geral que suscitou em seguida o discurso do Pontífice no parlamento alemão (é sempre assim: também com a viagem à Grã-Bretanha os gélidos ingleses acabaram se enamorando desde pontífice sábio e humilde).
Giuliano Ferrara – que é um homem culto e consciente – depois do discurso no Bundestag manifestou seu entusiasmo, publicou inteiramente um artigo no “Foglio”, acrescentou um comentário filosófico em que se definiu “ratzingeriano” e – embora não seja religioso – chegou a afirmar: “Somente um Papa pode nos salvar”.
Ferrara que nos últimos tempos (enganando-se, penso eu) temia que o grande papa Ratzinger (“o nosso amado Papa”) se intimidasse (pelas virulentas reações) depois do discurso de Ratisbona e que o via “imerso nas águas da fé apenas”, de onde o Pontífice “convidava a rezar e expiar as culpas pessoais e as da igreja”, dedicado à reconstrução interior da fé dos cristãos, reencontrou aquele que considera o único verdadeiro e grande líder da humanidade nesta conjuntura histórica:
“No esplêndido discurso feito no Bundestag, o Parlamento de sua pátria”, escreveu Ferrara, “ressurgiu em clara, simples e fulgidíssima luz – a luz da inteligência e da razão – aquele formidável professor Ratzinger que foi eleito como guia da Igreja de Roma com uma plataforma de luta intelectual e ética à deriva relativista e niilista do ocidente moderno. Que somente um Papa pode salvar. Bento surpreendeu a todos. Nada de intuições pastorais minimalistas, nada de catequese ordinária, e em seu lugar um enérgico, nítido e extraordinário convite à substância daquilo que é político, público, e à questão filosófico-jurídica de como se pode fazer a coisa justa, levar uma vida justa, conduzir governos e estados justos, fazer leis justas num mundo que não mais depende da tradição, da autoridade intrínseca da fé, mas da democracia majoritária. Foi – acrescenta Ferrara – uma grande lição filosófica, histórica e teológica sobre os fundamentos, mais, sobre a fundação política, da nossa cultura e da nossa ideia de liberdade, de humanidade, de natureza e de razão.
Os gigantes usam palavras simples e conceitos ao alcance de todos, não são esotéricos, falam ao centro forte e realista da inteligência humana. E assim fez o Papa (…). Não é um discurso permeado de polêmicas e sofismas. Se somos livres, se estamos num mundo laico, se somos donos de nosso destino é porque somos cristãos. O cristianismo não impôs a Revelação como lei, não é a ‘sharia’, não é um espaço mítico para deuses litigiosos. Na base dos direitos humanos, das conquistas do Iluminismo, da própria ideia moderna de consciência, está a escolha cristã e católica em favor do direito da natureza e da lei da razão”.
Ferrara o explica muito bem. Mas está diante dos olhos de todos a grandeza e a humildade deste homem de Deus, que desejava trabalhar pelo Reino de Deus através do estudo e com os livros, que não desejava ser nomeado bispo, nem prefeito do ex-Santo Ofício, que dele tentou demitir-se duas vezes e que – enquanto o elegiam Papa, na Sistina – rezava assim: “Senhor, não faça isto comigo”.
O povo cristão – como mostram os dois milhões de jovens reunidos em Madri em agosto – sabe que este Papa chega ao coração e à inteligência como nenhum outro e as mentes mais límpidas da cultura laica sabem que hoje Bento XVI é o único farol da humanidade num contexto muito nebuloso. Todos esperamos que não nos abandone na tempestade, que jamais deixe o seu ministério de pai de todos.

Porque nem todos os papas são iguais. São Vicente de Lérins dizia que “Alguns papas Deus nos dá, a alguns Ele tolera, outros nos inflige”. Bento XVI é um dom ao qual não podemos renunciar.
Tradução: OBLATVS