quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Homilia Diária - 15.09.2011 - "O coração do discípulo sabe acolher a Mãe de Jesus"


Ontem, dia 14, celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz. E hoje São João nos apresenta o texto da crucificação do Mestre. Quero recordar a você que a crucificação era um método romano de execução, primeiramente reservado aos escravos. Nesse ato combinavam-se elementos de vergonha e tortura.
O castigo da crucificação começava com a flagelação, depois de o criminoso ter sido despido. Colocava-se, em geral, uma inscrição por cima da cabeça do condenado (cf. Mt 27,37; Jo 19,19) com poucas palavras, exprimindo o seu crime. O condenado levava sua cruz ao lugar da execução. Algumas vezes ele era apenas atado a esse instrumento de suplício.
Tendo chegado a hora d’Aquele que se fez contar entre ladrões para todos salvar, não teve outra sina senão a cruz. Assim, Jesus Cristo – como qualquer criminoso – carregou a Sua cruz e, tendo chegado ao cimo da montanha, foi pregado na cruz.
Os três evangelistas sinóticos – Marcos, Mateus e Lucas – registram a presença das mulheres, a distância, no momento da crucifixão de Jesus. João, no seu Evangelho, as apresenta ao lado da cruz – Maria Madalena e Maria, a Mãe de Jesus – acrescentando o discípulo que Jesus amava.
Há aqui um pormenor a salientar: somente o evangelista João apresenta Maria e o discípulo amado ao lado da cruz, já que Mateus, Marcos e Lucas referem que havia umas pias mulheres um pouco afastadas da cruz. O que se quer evidenciar neste pequeno trecho são as palavras de Jesus à Mãe e ao discípulo amado: “Este é o seu filho. Em seguida disse a ele: Esta é a sua mãe”.
Jesus ao dizer: “Eis a tua mãe” quer personificar – no discípulo amado – que os seguidores d’Ele são objeto do Seu amor, porque observam a Sua Palavra. E assim, Maria é proclamada Mãe de toda a Igreja.
Com as palavras ao discípulo, Cristo esclarece o Seu pensamento: “Eis a tua mãe”. Maria não é só a Mãe de Jesus, mas a Mãe dos discípulos, a Mãe da Igreja, a Mãe de toda a humanidade. O Senhor revela então a Virgem Maria a sua missão de Mãe e ao discípulo a sua missão de filho.
O episódio ficaria incompleto se João não descrevesse a atitude, o gesto e o carinho do discípulo amado: “e desde aquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa”.
Na cruz, completa-se a obra reveladora de Jesus, a Sua hora alcança a plena revelação. Nossa Senhora está presente em todos os momentos do ministério de seu Filho, mas, de modo mais pleno, nós a vemos nas Bodas de Caná, quando Jesus afirma que ainda não é chegada Sua hora (cf. Jo 2,4) e, agora, na hora derradeira da Sua vida, Maria assiste no calvário a consumação da hora redentora de seu Filho.
Agora é chegada a hora. É a hora do sinal maior: a glorificação de Jesus, a Sua fidelidade plena ao projeto do Pai até à morte.
Em Maria, a mulher, temos a Mãe de Deus. Maria Madalena, que sairá em busca de Jesus no horto – como no Cântico dos Cânticos – representa a nova comunidade como esposa do Ressuscitado.
O discípulo amado, representante de todos os crentes, é envolvido nessa hora, acolhendo a Mãe de Cristo no seu coração e aceitando-a como Sua Mãe. João, recebendo Maria como Mãe, representa o discipulado no qual, como filhos de Deus, nos tornamos herdeiros da vida eterna, em Jesus Cristo.
Essa cena diante da cruz está carregada de simbolismo, já que o evangelista quer apresentar a Santíssima Virgem Maria como Mãe da Igreja.
Rezemos: Maria, minha Mãe, volvei vosso olhar sobre nós e rogai a Jesus, vosso Filho, por nossas necessidades.
Padre Bantu Mendonça