quarta-feira, 27 de julho de 2011

Os dois lobos

Posicionando-se acima do bem e do mal o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que a união de casais homossexuais é constitucional; deu guarida no País como exilado político a um criminoso fugitivo, julgado e condenado pela Justiça da Itália; liberou a realização de marchas da maconha, sob a égide da liberdade de expressão. A esse último juízo seguiram-se pelas capitais do País desfiles apoteóticos, orquestrados pelos defensores da liberação da droga, em sinal de vitória retumbante desselobby.

Resta o sentimento de indignação e tristeza a incontáveis cidadãos que com sacrifício desempenham a missão de pais e formadores das novas gerações, reduzidos à condição de expectadores. Vivemos a época de vaca desconhecer bezerro! Liberar marchas da maconha e dizer que isso não representa a apologia do uso da droga é hipocrisia. Pergunte isso aos pais aflitos que perderam os seus filhos para o submundo da droga e violência.

Ficamos desmoralizados nós que acreditamos na instituição familiar, tentando juntar cacos e restaurar vínculos familiares já tão agredidos e fragilizados. Determinadas declarações sobre constitucionalidade emitidas pelo STF confundem e decepcionam. Nosso povo pouco entende sobre os meandros dos labirintos jurídicos, mas entende muito bem que algo não se enquadra nos critérios de bom senso.

A estratégia de grupos de pressão (organizados e patrocinados) visa um desmonte das instituições. Sob o mote “liberdade de expressão”, eles estão impondo a ditadura do relativismo moral. Quem não percebe que por trás dos grupos de pressão estão interesses financistas? A maconha é uma das portas de entrada para a dependência de outras drogas que alimentam o narcotráfico, portanto, a violência, a criminalidade. Quem não percebe que existe alguém entrincheirado atrás desses grupos? O narcotráfico possui um poder paralelo ao do Estado. Será tão difícil admitir o óbvio?

A droga é estratégia letal para desestruturar pessoas, famílias e a sociedade. Que se organizem e se articulem em atividades propositivas os cidadãos e cidadãs identificados com a defesa da vida, da família, da soberania democrática, do bom senso, do humanismo cristão. Cabe aos cidadãos de bem integrar-se como parceiros de governos e instituições que, em vez de promover a licenciosidade, promovem políticas de inclusão social, qualificam a educação, capacitam profissionalmente adolescentes e jovens, recuperam ambientes de convivência pacífica e solidária.

Desenvolvimento integral da pessoa e da sociedade se constrói com trabalho e não com drogas defendidas por grupos de pressão parasitários, bem patrocinados. A parábola dos dois lobos nos questiona sobre os valores referenciais que nós e as instituições públicas transmitimos às novas gerações. Era uma vez um velho índio que explicava ao seu neto sobre as forças antagônicas que lutam dentro do mais íntimo de nós.

Trata-se da batalha entre dois lobos, o bom e o mau, que vivem dentro de cada um de nós. O lobo bom é a alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão, a fé. O lobo mau é a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, falso orgulho, superioridade do “ego”.

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:

- Qual lobo vence?

O velho índio respondeu:

- É aquele que você alimenta dentro do seu coração!

Valores éticos e morais são transmitidos pelos exemplos e absorvidos no mais íntimo recôndito de cada um de nós. A verdade nos liberta, cabendo-nos atitudes propositivas, abraçando a missão que Deus nos confia.

Dom Aldo di Cillo Pagotto é Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese da Paraíba.
João Pessoa, 26 de julho de 2011.