quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pe. Fuster pede demissão do Hospital de Sant Celoni - Hospital pratica vasectomia e distribui pílula do dia seguinte

BARCELONA, quarta-feira, 13 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Vice-presidente do conselho da Fundação Privada Hospital de Sant Celoni por ser pároco dessa localidade, Ignasi Fuster renunciou ao cargo em 10 de março passado, por motivos de consciência.
Ele não queria participar na direção de um centro no qual – como em muitos outros, incluindo os católicos –se praticam vasectomias e se distribui a pílula do dia seguinte.
Nesta entrevista a ZENIT, o sacerdote afirma que "a mentalidade contraceptiva leva a um fechamento diante do dom da vida" e, portanto, "o que está em jogo é uma grande questão ética, de enorme importância: a aceitação e o amor da vida possível".
ZENIT:Quando começou o seu desconforto com o cargo no hospital?
Ignasi Fuster: Quando cheguei à paróquia, há quatro anos, recebi a informação, por vários meios, de que o hospital tinha práticas contrárias à moral católica: realizavam vasectomias (esterilização masculina) e distribuíam a pílula do dia seguinte.
ZENIT:Como o senhor agiu?
Ignasi Fuster: Tentei mudar as coisas. Pedi, especialmente ao presidente do conselho, a isenção dessas práticas no nosso hospital, e da distribuição da RU-486, que está prevista na nova lei do aborto, embora no hospital não se distribuísse esta pílula abortiva antes.
Passei quatro anos lutando na base de conversas, do diálogo, de tentar mudar as coisas, até que chegou o momento em que senti esgotada a minha capacidade e apresentei a minha demissão.
Fiz isso alegando que eu era vice-presidente do conselho e as origens eclesiásticas do hospital. Mas os outros membros da diretoria não encararam bem o assunto.
ZENIT:Qual é a composição do conselho?
Ignasi Fuster: O conselho da Fundação Privada do Hospital de Sant Celoni é composto por um presidente, cargo que corresponde ao prefeito de Sant Celoni; um vice-presidente, cargo que corresponde ao pároco; e o magistrado da cidade, além de quatro membros nomeados pelo prefeito e outros quatro designados pelo pároco.
ZENIT:Então o senhor viu a necessidade de renunciar?
Ignasi Fuster: É hora de defender a própria liberdade e a própria consciência. A única solução que eu tinha era sair do hospital, porque não conseguia estar à frente de uma instituição – fazendo parte do corpo diretivo – que vai contra meus princípios de fé e moral, porque no final está o Deus da vida. Eu fiz um exercício de coerência.
Amparei-me no direito que existe na Constituição à objeção de consciência por razões religiosas e ideológicas, perante um notário.
Foi uma decisão pessoal do pároco, Ignasi Fuster, que é quem ocupava o cargo.
ZENIT:Que reações sua renúncia provocou?
Ignasi Fuster: Na cidade há muitas pessoas que até discordam de mim, mas que reconheceram e valorizaram que eu era coerente com o que acredito e com minha visão destes aspectos da sexualidade e da vida.
Houve pessoas que se alegraram com a decisão. Eu acho que sentem a responsabilidade da Igreja nos tempos difíceis que vivemos.
ZENIT:Seu cargo no conselho do hospital está agora vacante.Mudaram alguma coisa nas práticas que o levaram a demitir-se?
Ignasi Fuster: Eles continuam realizando essas práticas, é claro. Com cortes no orçamento, acho que não realizam mais as vasectomias, mas seria algo circunstancial, por uma razão econômica, no contexto de uma redução de serviços, não por convicção.
ZENIT:Que práticas realizadas no Hospital de Sant Celoni o senhor considera nocivas e por quê?
Ignasi Fuster: Faziam esterilizações, vasectomias. Mas não realizavam ligadura de trompas, porque há serviço de ginecologia, mas não obstetrícia.
Também se distribui a pílula do dia seguinte, embora não sejam realizados abortos cirúrgicos nem seleção de embriões.
E me diziam que a pílula do dia seguinte não é abortiva, mas eu defendo que ela tem um efeito duplo: contraceptivo, mas também abortivo, se a concepção ocorreu.
A pílula tenta inibir a ovulação e "dispara" se houve concepção: impede a implantação no útero. Para mim, como uma pessoa da Igreja, são questões graves.
O documento da Congregação para a Doutrina da Fé Dignitas personae (2008) recorda que esta pílula é "interceptiva", ou seja, intercepta o embrião e o elimina.
ZENIT:Por que o senhor se opõe à vasectomia?
Ignasi Fuster: As vasectomias são esterilizações masculinas e, como as laqueaduras, acabam agindo como um contraceptivo.
Mas como entender que um ser humano se esterilize? A possibilidade de gerar é uma capacidade que pertence aos seres humanos. A privação desse potencial não respeita esta dignidade.
Eu acho que o homem deve viver diante do mistério da vida nova em uma atitude de abertura e hospitalidade.
Em contraste, a mentalidade contraceptiva leva ao fechamento diante do dom da vida. Então, o que será da nossa sociedade, se perder este sentido de acolhimento? Acho que estamos falando de questões importantes.
Além disso, a Igreja fala da paternidade e da maternidade responsáveis. Mas isso está longe do que significa ser esterilizados.
O que está em jogo é uma enorme questão ética, de grande importância: a aceitação e o amor da vida possível.
ZENIT:Mas, sendo um hospital da rede pública, não é obrigatório oferecer estes serviços?
Ignasi Fuster: Devemos ser capazes de contratar os serviços que nos interessam e os que não, não; porque o hospital não é público, ainda que seja pago com dinheiro público; ele tem uma identidade própria. Estamos na rede pública, mas não somos um hospital público; deveríamos ter liberdade para contratar o que nós queremos.
O hospital recebe dinheiro público, sem os qual seria inviável, mas é lógico que podemos decidir sobre os serviços que contratamos. Deveríamos poder dizer que estes serviços, em particular, uma proporção muito pequena, nós não contratamos. Eu acho que se deveria respeitar a identidade em parte eclesiástica desse hospital.