quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pedro e Paulo: colunas da Igreja




Neste último domingo, dia 3 de julho, a Igreja celebrou no Brasil a solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo. Em Roma, onde eles deram a vida por Cristo no martírio e são patronos da cidade, a solenidade foi comemorada dia 29 de junho; no mesmo dia, o papa Bento 16 comemorou 60 anos de ordenação sacerdotal na Basílica de São Pedro, enquanto também entregava o pálio a 40 novos arcebispos, dos quais 7 eram do Brasil.
Pedro e Paulo são considerados “colunas da Igreja”; por certo, também os outros apóstolos o são e seu testemunho e pregação permanecem referência obrigatória para a fé da Igreja; ela nasceu de Jesus com o grupo dos apóstolos, por ele escolhidos, preparados e enviados ao mundo para darem testemunho de tudo o que dele viram e ouviram. Para isso, receberam o dom especial do Espírito Santo, para assisti-los e confirmar o seu testemunho. Ao longo do tempo, a Igreja permaneceu fiel e perseverou na doutrina dos apóstolos, como já fazia a primeira comunidade cristã, em Jerusalém.
Pedro e Paulo, no entanto, a um título muito especial são “colunas da Igreja”, que se edifica solidamente sobre Cristo, rocha inabalável. A Igreja se alegra e agradece a Deus pelo seu testemunho, pois eles “nos deram as primícias da fé”. Pedro, chamado a amar Jesus mais que todos, recebeu “as chaves do reino dos céus”; elas representam o poder e a autoridade especial dados a Pedro para bem servir a Igreja. Ele deve apascentar os cordeiros e as ovelhas do rebanho de Cristo e zelar pelo bem delas mais que todos. Missão grande e difícil, que fará Pedro sentir, no desempenho de sua missão, as alegrias e as dores do Mestre.
Por esse motivo, a Igreja reza sempre e em toda parte pelo Sucessor de Pedro, como já fazia a primeira comunidade cristã, em Jerusalém: “enquanto Pedro estava na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele” (At 12,5). A menção do nome do papa em cada missa não é mera conveniência, mas questão de fé e manifesta nossa união com o papa e a adesão ao seu magistério; ele deve confirmar continuamente os irmãos na fé – “tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt 16,16s). Confirmados por ele, temos a certeza de estar no caminho de Jesus Cristo.
Se Pedro é a coluna da unidade da Igreja e da comunhão na mesma fé, Paulo representa a dimensão missionária da Igreja, enviada para o meio dos povos para lhes comunicar sem cessar a Boa Nova. “Ai de mim, se eu não evangelizar!”. Paulo, missionário infatigável, tem clara consciência de que a salvação manifestada por Deus em Cristo Jesus não é só para alguns, mas para todos. Por isso, ele rompe as fronteiras culturais, raciais, sociais e religiosas e anuncia o Evangelho apaixonadamente também àqueles que ainda não conheciam a Deus, nem as promessas messiânicas anunciadas pelos profetas ao povo escolhido. Deus quer que todos cheguem ao conhecimento da verdade e se salvem.
Em nossos dias, a Igreja está tomando uma renovada consciência de sua “dimensão paulina”; o beato João Paulo 2º, no início do novo milênio, exortou a levar o barco mar adentro, a lançar as redes em águas mais profundas e a pescar novamente, confiante no mandato recebido: “Mestre, em atenção à tua palavra lançarei novamente as redes!”. Na Conferência de Aparecida (2007), a Igreja no Brasil e em toda a América Latina foi convidada a se rever, a ir além de uma “pastoral de conservação” e a assumir uma postura missionária permanente. E estamos na preparação da 13ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos (2012), que terá por tema – “nova evangelização e transmissão da fé”. É a Igreja que se edifica sem cessar sobre a coluna paulina...
Pedro e Paulo, por diferentes modos, reuniram a única família de Cristo; Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou-a sobre a herança de Israel; Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou aos diversos povos o Evangelho da salvação. Ambos deram a vida por Cristo em Roma, um pela cruz e outro, pela espada (cf prefácio da Solenidade).
Teremos, no próximo dia 9 de julho, na nossa Catedral metropolitana, a ordenação de um novo bispo – dom Júlio Endi Akamine, nomeado auxiliar de São Paulo pelo papa Bento 16. Mais uma vez, repete-se o que a Igreja vem fazendo desde o seu início: os apóstolos escolhem e impõem as mãos a quem deve desempenhar com eles, e depois deles, a missão recebida de Cristo. O Sucessor de Pedro escolheu e nomeou; os sucessores dos apóstolos impõem as mãos ao novo bispo e invocam sobre ele o dom do Espírito Santo – sinais de comunhão eclesial e de autenticidade na missão. Belezas do mistério da Igreja! Ela continua alicerçada sobre a pedra angular, que é Cristo; e segue confortada e sustentada pelo testemunho dos apóstolos Pedro e Paulo, que lhe dão estabilidade e dinamismo.


Dom Odilo Pedro Cardeal Scherer