segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Amy Winehouse, mais uma vítima do vazio existencial dos nossos dias.



Nesses dias passados em que fomos bombardeados com notícias acerca da morte da cantora britânica Amy Winehouse, lembrei do trecho de uma música do Cazuza – que também morreu prematuramente – e percebi que posso reescrevê-la pelo avesso: “meus heróis não morreram de overdose!“
Mesmo sem o resultado da autópsia é bem provável que a morte de Amy tenha sido resultado direto ou indireto do abuso de drogas. Sei que uma das características marcantes do humano é a adoção, mais ou menos explícita, de modelos de identificação. Assim, o pai ou a mãe, um tio ou tia, professor, um avô ou avó ou mesmo alguma figura pública, parece encarnar alguns dos ideais que almejamos e se tornam assim modelos de identidade para nós.
Desde que não percamos o senso das nossas fronteiras pessoais, o que representaria uma fusão fantasiada com tais modelos, o fenômeno pode ser visto numa perspectiva positiva. Particularmente na juventude, quando se fala numa crise normal de identidade, a assunção de modelos pode ser saudável para o desenvolvimento. O preocupante é que esses modelos de identificação não são obras do além, mas são produtos sociais historicamente constituídos.
Quais são os modelos propostos atualmente?
Numa das muitas reportagens sobre a morte da cantora britânica, mais especificamente sobre o bairro londrino onde ela vivia, dava para perceber que o padrão vigente era não ter qualquer padrão: cabelos vermelhos, verdes, amarelos, longos ou espetados, piercings, tatuagens e roupas completamente disformes. Nada contra! É apenas uma constatação.
O curioso é que o repórter televisivo com uma gola pólo cinza é que parecia “esquisito”. Será que esse “visual despojado” não é um pequeno sinal de uma “existência despojada”? E como ela está na moda atualmente! Sem compromissos, sem ligações à causa nenhuma e, no mais das vezes, sem qualquer noção de sentido de vida, paradoxalmente cheia de vazio… É apenas uma hipótese!
Definitivamente meus heróis não morreram de overdose! O psiquiatra austríaco Viktor Frank teve uma grande penetração intuitiva quando no século passado diagnosticava que a nossa sociedade vivia uma profunda crise de sentido. Isso é ainda mais válido para o presente momento! A drogadicção pode não ser uma doença, mas um sintoma de uma doença que tem corroído os homens por dentro: “não há sentido na minha vida! Para que viver?” E nem queira uma solução pronta estilo fast-food: “passa um remédio aí doutor!” Sem compromissos duradouros, sem causas a defender, sem tradições religiosas que nos indiquem qualquer sentido… a existência tem caminhado à deriva. Antes de considerar Amy uma heroína a tenho como mais uma vítima do vazio existencial dos nossos dias.
Urge reencontrar um sentido prá viver e o bom é que ele existe!
Daniel Rubens
Psicólogo com especialização em logoterapia e Análise Existencial