segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O seu conceito de liberdade é condizente com a verdade e com a fé cristã?


Presas ou plenamente livres?
Presas ou plenamente livres?
Paulo Roberto Campos

Certa pedagogia dita moderna se equivocou ao querer inculcar nos pais de família uma atitude excessivamente indulgente: nunca proibir, jamais dizer não aos impulsos dos filhos. Ou seja, a aplicação apenas da primeira parte do axioma em epígrafe, É preciso saber dar…, — dar aos filhos tudo quanto exijam, ceder sempre, conceder-lhes uma liberdade sem fronteiras.
Em contraposição, apresentamos então o que ensina a pedagogia tradicional, norteada nos princípios da Santa Igreja: é preciso saber dar, mas também, quando necessário, saber negar, proibindo aos filhos aquilo que os levariam a adquirir maus hábitos.
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Essa Pedagogia liberal é caolha ao ver apenas um lado da questão. Pois, baseando-se num falso conceito de liberdade, ensina que as crianças, para serem felizes, devem viver inteiramente livres, fazendo o que “der na veneta” e que não se deve coibir-lhes em nada suas espontaneidades.
Isso devido a uma falsa intelecção de liberdade. Permitindo fazer tudo o que pede a imaginação, as más tendências levam o homem a ceder a seus próprios caprichos e às más paixões, e logo ao pecado. Daí a expressão “escravo do pecado”.
Liberdade e “liberdade”
“A doutrina católica sobre a liberdade humana ensina que esta consiste, não no direito ou na faculdade de fazer tudo quanto aprouver aos sentidos e à imaginação, mas em seguir os ditames da razão, por sua vez ilustrada e amparada pela fé. O que constitui precisamente o contrário da doutrina de Freud e da maior parte das escolas psicológicas e psiquiátricas que surgiram depois dele.
“Ora, nestas condições, a sujeição a uma disciplina voltada a impedir que o homem se ponha em ocasiões de ser arrastado pelo bramido irracional e turbulento dos instintos, constitui, não um vínculo ou uma algema para a liberdade, mas uma preciosa proteção para ela.
“Assim, proibir a um jovem que freqüente ambientes onde se fume maconha não é limitar a liberdade dele, mas garantir essa liberdade contra a tirania do vício, para o qual uma tentação sutil ou torrencial pode atraí-lo de um momento para outro”(1).( Plinio Corrêa)
Liberdade? Sim, para o bem; não, para o mal.
Na conhecida Encíclica de Leão XIII, o Pontífice denuncia como distorção e abuso da liberdade permitir-se fazer tudo o que passa pela cabeça, inclusive o mal; liberdade não consiste na espontaneidade instintiva, mas em seguir a reta consciência, pois, a verdadeira noção de liberdade está na prática da virtude e não na faculdade de pecar, que seria escravidão.
Assim, uma criança obedecendo aos pais, não é tolhida em sua liberdade, mas dá provas de ser livre aceitando ser por eles orientada naquilo que é bom e evitando o mal.
O santo pedagogo Pe. Champagnat soube, na educação dos meninos nos colégios maristas por ele fundados, harmonizar extraordinariamente o saber dar e o saber negar. Segundo ele, para conciliar disciplina e liberdade é necessário gravar os princípios religiosos na alma da criança e formar-lhe a vontade, mas desde os primeiros anos. Se já crescidas, seria como querer endireitar um grande arbusto – ao dobrá-lo, ele se quebra. Ao passo que, sendo ele pequenino, facilmente é endireitado.
Quando ainda criança, os bons princípios imprimem-se com facilidade no espírito e no coração da criança, ela adquire o gosto na prática da virtude, convencida de que esta é o bem que a torna verdadeiramente feliz, mesmo neste mundo, e que o pecado é o pior dos males.
“A liberdade, portanto, é, como temos dito, herança daqueles que receberam a razão ou a inteligência em partilha; e esta liberdade, examinando-se a sua natureza, outra coisa não é senão a faculdade de escolher entre os meios que conduzem a um fim determinado. É neste sentido que aquele que tem a faculdade de escolher uma coisa entre algumas outras, é senhor de seus atos. ….
“Assim como o poder enganar-se, e enganar-se realmente, é uma falta que acusa a ausência da perfeição integral na inteligência, assim também aderir a um bem falso e enganador, ainda que seja um indício do livre arbítrio, constitui contudo um defeito da liberdade, como a doença o é da vida.
Igualmente a vontade, só pelo fato de que depende da razão, desde que deseja um objeto que se afaste da reta razão, cai num vício radical que não é senão a corrupção e o abuso da liberdade. Eis por que Deus, a perfeição infinita, que, sendo soberanamente inteligente e a bondade por essência, é também soberanamente livre, não pode de nenhuma forma querer o mal moral. E o mesmo sucede com os bem-aventurados do Céu, graças à intuição que têm do soberano bem. ….
“O Doutor Angélico ocupou-se frequente e longamente desta questão; e da sua doutrina resulta que a faculdade de pecar não é uma liberdade, mas uma escravidão”.
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(Leão XIII, Encíclica Libertas Praestantissimum, Documentos Pontifícios, Nº. 9, Vozes, Petrópolis, 1961, 4a. ed., pp. 6 a 8).